Os dias continuam na ânsia de passar, sem que me aperceba da sua fuga do passado que já não nos pertence.
Remexo nas cinzas, em busca de algum calor teu, que permita aquecer os meus dias que, ainda, estão para vir.
Esta sensação de derrota não se partilha. Fui à guerra e perdi.
Continuo ancorada no divagar que não sossega o sono; ausente - das ruas por onde passo, das flores perfumadas das minhas laranjeiras pequeninas, das cores das cestas de cereja na berma da estrada, dos recreios da escola que me empurram, das conversas que me soam de longe (ainda que perto), das lágrimas que caem sem que as chame,...
Ainda não cheguei; percorro um trilho longo e que desconheço.
Alteraram o meu percurso bem traçado e cada passo em frente traz consigo um estranho cansaço.
Tenho que o percorrer sozinha, apesar do insustentável peso da saudade que transporto.
Apesar das mãos que me estendem.
Apesar da pressa com que me chamam.
Talvez o calor de Agosto...
Ver-te é como ter à minha frente todo o tempo
é tudo serem para mim estradas largas
estradas onde passa o sol poente
é o tempo parar e eu próprio duvidar
mas sem pensar
se o tempo existe se existiu alguma vez e nem mesmo meço
a devastação do meu passado
Ruy Belo
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