Não voltei a ver os olhos do David.
Fechou-os para adormecer no dia 16 de Outubro e o sol que iluminava o Porto e que entrou, no dia seguinte e no outro, pela janela do quarto, e o iluminava, ao pôr-do-sol, deixaram-no indiferente.
Da janela daquele quarto, só eu o via, com estranheza. Porquê tanto sol?
Não foi suficiente para o despertar da caminhada a que se abandonara silenciosamente, pelos caminhos traçados pela sua própria luz.
E, só hoje, quando mostrava a fotografia dele a um amigo e ele me disse que eram bonitos, me lembrei, especificamente, dos olhos
Tal como, muitas vezes, me lembro das mãos grandes e meigas, do sorriso doce e brincalhão com que brindava a quem queria bem e do bater do coração, quando encostava o ouvido ao seu peito e lhe dizia, na brincadeira “tens um coração forte de tourinho”.
As coisas de que uma mãe se lembra!!
Quando a tristeza se instala, em frente ao computador silencioso...
Ontem, não chorei.
Fotografia
Olho para o alfinete que, às vezes, trago ao peito.
Com uma fotografia.
O chapéu descaído que trazias
Protege-te do calor de Agosto;
Os óculos escuros escondem-te os olhos
Que eu sei de cor.
Ao fundo, o branco das casas reflecte o pôr-do sol
E o verde frondoso da encosta
envolve-nos
na carícia delicada que me fazes.
Recordo bem os teus gestos,
As tuas mãos
Os teus olhos verdes de vencedor
O teu sorriso meigo…
Agora, tristemente,
que passou um caudal de tempo
Impetuoso
Sobre esta fotografia
Estou sem vontade de fingir.
Isabel
1 comentário:
"Into my arms" - Nick Cave
"Can´t take my eyes off you"- Damien Rice
Obrigada David por me teres ensinado a ouvir as letras das músicas.
Beijinhos. Nini
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