21 dezembro 2020

Esta tremura que sinto!



Para onde correm as pessoas
Olhando em frente
Num esvoaçar atordoado?

Porque se enchem as ruas de gente 
Sem que ninguém repare 
Que não há sorrisos abertos
Nem música no falar
Nem risos
Nem abraços.

Mas é Natal!
 
Só pés cansados 
E pressa de chegar depressa
Ao sossego triste do lar? 

Vale o sentido do dever
Cumprido.

Pois é Natal.

Porque não param para olhar 
Quem passa por elas? 
Pois se até os ombros se tocam
Nos corredores apinhados 
E não sentem 
Nem reparam 
Que é a sua carne contra a carne de alguém 
Humanidade, mesmo ao lado 
Alegria ou então, talvez, dor 
Contra dor 
Contra alegria 
Saudade contra saudade. 
Melancolia a par de melancolia.

Fome até, talvez.
E é Natal!

Não sabem 
Porque não param 
Não olham 
Não falam 
Para além do preço regateado 
De mais um presente
Embrulhado
De mais um saco que se enche 
Para substituir o vazio amargo dos dias. 

E eu parada, cansada 
De ver as gentes correr 
Num rodopiar eufórico 
Elétrico 
Na busca de sentido para o nevoeiro 
Dos dias. 
Sem sentido. 

E eu, aqui, quieta, David. 
Tu ao meu lado. 
 
Sinto tão bem a tua cabeça apoiada no meu ombro!
Ainda mais, nestes dias
Em que a tremura aumenta.
Na iminência do Natal. 

E, embora estejas ausente, 
Tão inesperadamente ausente
E, eternamente, o lamente 
É, pelos teus olhos, que vejo o mundo. 
Ainda
Pelos teus olhos ausentes.

Este mundo que, num corropio, rodopia. 
Este mundo que  eu estranho
Mas 
Por onde o teu coração me guia.

24 julho 2020

TU, no passado, no presente, no futuro

Olha.

Lá anda ela a cavalgar o tempo
A navegar sentimentos
Nos soluços presos na garganta seca
Não sabe se regressa do futuro imaginado
Se recua, imprecisa e ressentida, do passado
Para, de olhos entreabertos, mergulhar
E emergir sonâmbula no presente


Lá anda ela
A louca dos sentidos
A alongar-se no largo oceano
Onde estás
Em cada grão de areia
Em cada fio de alga


Contigo
Imaginado, apenas
Sente-se cavalo-marinho
Um búzio
Ou estrela do mar

Regressa, então
à teia