O tempo não parou.
E a vida também não... mas nada reata a corda partida. Um nó, talvez... Mas ver-se-á sempre que, ali, naquele fio do tempo, surgiu um nó. Dois nós, talvez,... Qual prisioneiro fugitivo que se escapa pela janela e não confia num só nó.
Pode cair das alturas e não resistir à vertigem do choque com a realidade escura do basalto que o espera, lá em baixo.
Depois, talvez possa fugir, desaparecer ou disfarçar-se e permanecer invisível. Mas teve que dar um nó,... dois nós..
Dentro do silêncio em que me instalo, percorro outros silêncios antigos circulares, que construí, à minha volta, para me proteger de magoar os outros.
É tão difícil sair daqui.
Uma Voz na Pedra
Não sei se respondo ou se pergunto.
Sou uma voz que nasceu na penumbra do vazio.
Estou um pouco ébria
e estou crescendo numa pedra.
Não tenho a sabedoria do mel ou a do vinho.
De súbito, ergo-me
como uma torre de sombra fulgurante.
A minha tristeza é a da sede e a da chama.
Com esta pequena centelha
quero incendiar o silêncio.
O que eu amo não sei.
Amo. Amo em total abandono.
Sinto a minha boca dentro das árvores
e de uma oculta nascente.
Indecisa e ardente, algo ainda não é flor em mim.
Não estou perdida,
estou entre o vento e o olvido.
Quero conhecer a minha nudez
e ser o azul da presença.
Não sou a destruição cega nem a esperança impossível.
Sou alguém que espera ser aberto por uma palavra.
António Ramos Rosa
2 comentários:
BOTÃO
" Sou alguém que espera ser aberto por uma palavra "
Mais do que um nó sou um botão que acasala com a casa e nela se fecha ou abre dando acesso e pese o medo, ao inesperado.
Botão palavra que abre a casa ou nela veste o tempo que não parou.
Muitos botões formando frase, as casas abotoadas do casaco que me cobre e esconde prisioneiro atordoado de fugir e que se escapa sem escapar pela janela nem caindo das alturas confiando e resistindo à " vertigem do choque com a realidade escura do basalto " que não espera ...
Fujo sem fugir e desapareço sem me disfarçar e não me vendo cingido pelas casas abotoadas dentro do silêncio em que me instalo percorrendo em espiral que às pausas as renova em circulares distintas e construidas à volta e que me protegem ...
Protegem dos outros e de mim como uma voz que do interior da pedra grita na penumbra do vazio!
Centelha de amor incendiada pela chama que já sabe não sabendo que é triste a pedra calcinada.
Mas é também azul, translúcida como a água da nascente que oculta, indecisa mas ardente
brota como flor em mim perdida!
Não estou perdido nem destruído e quero conhecer minha nudez volvida pelo vento e o olvido cego que nem à esperança a tornam impossível.
Não estou perdido ...!
-.-
( Paráfrase à volta de Uma Voz na Pedra de António Ramos Rosa e Um nó no Fio de Isabel Venâncio )
-.-
Jaime Latino Ferreira
Estoril, 16 de Julho de 2008
Isabel,
Por mais difícil que pareça vai sair daí, essa dor vai transformar-se em doce alegria de encontros feitos de recordações doces e essas pedras cinzentas da Penada que aqui colocou não deixam de ser de uma beleza ímpar. A Isabel que já por lá passou e porventura o David, fazem parte do nosso Minho adorado, sabe quanta beleza existe oculta nesse Parque Natural e é a Natureza que há-de dar sentido à sua vida, a natureza que somos nós próprios.
Mil beijinhos
Branca
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