14 julho 2008

Em busca duma guitarra


Hoje foi dia de fingir e tentar sorrir.
Por isso, a noite é de não dormir.
O corpo quer descanso mas a cabeça não sossega. Continua desperta a ver desfilar imagens.
O dia 13 em Madrid é o tempo e o espaço onde regresso mais vezes.
É impressionante como nos movimentamos no tempo e, de repente, percorro outras ruas, sob outros sóis.
Uma imagem tenho gravada na mente. Foi quando, terminada a consulta na Clínica MdAnderson, eu e o David, depois te termos deixado o Manel, no hotel, continuámos de táxi, até ao centro.
Chegámos e o táxi partiu...
E então, num ápice de tempo que não percebi, ouvi o David queixar-se que tinha deixado o telemóvel no táxi e vi-o a perseguir o táxi, a mandá-lo parar... a correr com uma velocidade espantosa, atrás do carro, e atrás um autocarro.
É assim que o vi todo o dia. Cheio de energia, a perseguir um táxi, e entre ele e o táxi, um autocarro.
O telemóvel foi recuperado...
É essa vitalidade que recordo e o ar sorridente com que o vi regressar, com o telemóvel no ar.
A seguir, ainda fomos a lojas de guitarras, tentar encontrar uma igual à do cantor brasileiro Lenine.
Porque a música esteve sempre lá. Em cada oportunidade que surgia.
E eu sempre, também lá, em cada desejo formulado ... sei que nenhum instante se eterniza.
A estas realidades não se ajustam alternativas parcelares, Sim/Não, Ser/Não Ser, Bem/Mal. Tem que ser Sim, Ser, Bem - sem hesitar. Não se apanha o tempo que passa..., é irreversível.

Hoje, enchi-me de coragem e falei nisso ao jantar...
Era um espanto esse meu rapazinho de olhos verdes; uma força da natureza.
Esta noite, as notícias, quanto ao futuro, que de lá trouxemos não interessam.
Só um David, determinado e vencedor, a correr, pelas ruas de Madrid.
Sob um sol abrasador.




O preço da vida
(Letra de uma canção, traduzida do Inglês)


A vida é como uma música

Podes fazer tudo com ela

És o músico

Da tua própria vida.


Quanto melhor músico fores

Melhor será a tua vida

Podes julgar-me bem ou mal

Se achas que sabes a verdade.


Nada sei quanto aos outros

Mas acho que eu toquei bem

A minha fobia não me abala

Todos nós temos um preço a pagar

É o que indica a tua música.


Não interessa se a tua música é a melhor

Ou a pior

Vais ter a avaliação no fim.


Todos devem pagar

Um preço na vida

Uns, pelos lugares procurados

Outros, pelo castigo

Por desperdiçarem a vida

Tão valiosa, tão valiosa.


Depois de cá estares

Tens que pagar

Quer o lamentes

Ou o sigas


David Sobral


5 comentários:

Anónimo disse...

DIÁLOGO COM O DAVID

Quer o lamentes ou sigas
Tens um preço a pagar
Escrevas por cá o que digas
Já não resolve chorar
-.-

DIÁLOGO COM O TEMPO

O tempo é que se movimenta por todas as ruas e sóis que em nós habitam e sem nos darmos conta julgamos correr atrás dele na ilusão de o parar, de o perseguir vertiginoso, a uma velocidade espantosa que só eterniza cada instante se na sua dicotomia assimétrica enfatizarmos o positivo como o oiro que cabe e julgamos que deixamos, porventura, fugir da nossa exígua mão.
-.-

DIÁLOGO COM A MÚSICA

A música é a vida que tu cantas em ti própria/
É mania de cantar/
É a vontade de amar/
-.-
Quando finjo que sorrio, eu já estou a sorrir.
-.-

Jaime Latino Ferreira
Estoril, 14 de Julho de 2008

Branca disse...

Isabel,

Já tinha lido hoje este texto. Ia jurar que o tinha comentado, mas ae calhar não, andei numa roda viva, muito pela rua e devo-me ter ficado pela leitura, mas não queria deixar de lhe dizer que foi mais uma recordação que gostei de ler e que fez bem partilhar connosco. Sentiu-se o espírito vivo, actuante e alegre do David nesse episódio que parece tirado de um filme em movimento em que ele corre atràs do seu telemóvel e volta feliz por ter conseguido.

Deixo-lhe um beijinho e fico feliz por estar a escrever estas memórias, é uma bela partilha para nós e penso que bom para o seu espírito e para fazer o seu luto. Agora pode magoar, mas também pode ser libertador...

Branca

Anónimo disse...

Isabel

Minha Querida Amiga,

Estou preocupado comigo mesmo ...

Terei clicado devidamente para que os três textos poéticos que a este Seu post dediquei, Lhe tivessem chegado!?

Terei neles sido inconveniente ao ponto de a Minha Amiga decidir não editá-los ...!?

Sabe, Isabel, eu escrevo de rasgo e de rompante, sem rede que seja um rascunho e poderá ter acontecido, involuntariamente, isso mesmo e assim sendo, só Lhe poderei dar razão.

A ter sido assim, peço-Lhe as minhas desculpas!!!

Lembro-me que nesses textos terminava com uma referência às Suas palavras iniciais, quando escreve que ( ... ) " hoje foi dia de fingir e tentar sorrir " ( ... )

E de Lhe dizer que, mesmo quando fingimos e tentamos sorrir, esforçamos por sorrir, já algo se transfigura e ficamos, queiramos ou não, mais receptivos ao sorriso.

O Artista é um fingidor, lá dizia, aproximadamente, o poeta e de tanto fingir ...

Desculpe-me a minha inconfidência porque a ter existido, não foi por mal que a cometi.

Também sei que de boas intenções ...

Um beijinho,

Jaime Latino ferreira
Estoril, 15 de Julho de 2008

Anónimo disse...

Jaime

Se eu não o conhecesse diria:

- Jaime, você não esxiste!

Mas eu conheço-o e, Mana, o Jaime existe MESMO.

1 abraço com muita amizade.
Nini

Anónimo disse...

Óh Nini ...!!!

Jaime Latino Ferreira
Estoril, 16 de Julho de 2008