Fala-se de dias e dias que escorrem ... sem um filho que partiu! Fala-se à toa ... e escreve-se, sempre, para silenciar a saudade ou as lágrimas. À toa ...
29 julho 2008
Só a realidade pode ser vencida.
Esta não é altura para parar ou deixar de pensar.
São os dias de maior aflição, de novo pânico, perante o vale de garganta profunda e escura de que me aproximo, passo a passo.
Porque o mês de Agosto foi um Inferno.
Inferno, com o calor sufocante com que nos inundou.
Inferno, com as dores que o David começou a ter e de que não sabíamos a origem.
Inferno, porque cheio de insónias e pedidos de ajuda, pela noite dentro.
Inferno de saudades de Moledo.
Inferno de saudades dos amigos.
Inferno de completo desatino e dúvida.
Inferno de perder o Norte da esperança.
Não!
Não é tempo de parar, nem tal me pode ser exigido. Sei que tenho que reviver cada momento desesperado e procurar, ou pelo menos tentar, alguma réstea de alegria.
Encontrar uma imagem menos nítida de sofrimento e medo. Para que se fixe, de forma doce.
Porque o tempo foi muito curto.
Assustadoramente curto.
Cruelmente curto.
Tão curto que não me apercebo de que passou…ou, mesmo começou…
Tão curto que não consigo, ainda, percorrê-lo sem que não repare, estupefacta, que perdi a noção do tempo.
Que foram apenas dezoito meses em que tivemos que tentar viver o que talvez nos fosse permitido, numa vida inteira que colocasse ao nosso dispor todo o tempo da vida.
Não vale a pena. Este é, ainda, o meu destino.
Vou percorrê-lo.
Seguir, apesar de só, pelo caminho aberto pelas pegadas que deixámos, ainda lado a lado.
Neste percurso, inguém me pode acompanhar. Estas imagens não se partilham.
Estes combates são solitários; são entre mim e mim.
Sei que não posso fugir de pensar, a cada dia, que este foi o dia em que…
Cada dia, até ao dia em que aquela mão grande e meiga deixou de apertar a minha mão, é revisitado.
Não há outra forma de gastar a dor que continua a ser demasiadamente intensa.
Só assim me poderei libertar, não das imagens, mas de toda a angústia que lhes está associada.
A pouco e pouco, vou tentar voltar
Tal como “David, o Bom!” faria.
Sei que ele conseguiria.
«No creo indispensable tomar un sueño por realidad, ni la realidad por locura»
Adolfo Bioy Casares
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2 comentários:
"A pouco e pouco, vou tentar voltar
Tal como “David, o Bom!” faria.
Sei que ele conseguiria."
E vai conseguir...António
HÁ
" Não creio que seja indispensável tomar o sonho por realidade nem a realidade por loucura "
Vai, a Minha Amiga, por caminhos certos ...
Precisa, concordo, de encontrar uma imagem menos nítida de sofrimento e medo para que nela se fixe de forma mais doce e sustentável!
Aquele ponto de equilíbrio que sem trair a memória, nela encontre a força bastante para os combates solidários que a despeguem de Si mesma ...
Para que no confronto Consigo própria, consiga prosseguir!
E a minha Casa enche-se de silêncio uma vez mais, diante da Sua dor ...
... do inferno que percorre e sabe, terá sozinha de vencer!
No reencontro e reconciliação Consigo mesma ...
Há uma angular específica que apenas a Minha Amiga saberá reencontrar, sacar, para que continue, embora já continue na partilha da Sua dor!
Há ...!
Há um ponto de novo equilíbrio, porque já não poderá ser o mesmo, ele há-o sim!!
E que passa por aqui, por esta Sua página também e pelos feedbacks que recebe, de quem a quer ver bem, melhor, reconciliada!!!
Ele há sim, ele há um cabo das tormentas que é capaz de dobrar ...
Jaime Latino Ferreira
Estoril, 29 de Julho de 2008
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