31 dezembro 2008

2008, 365 dias, 8760 horas





2008, 365 dias, 8760 horas
O céu por cima dos pinheiros
Estrelas cadentes
A brancura de um lençol
A tua face franzina e movimentos pesados
Sorrisos lânguidos no olhar
Uma certa lassidão
Uma vela acesa sob o luar, junto à praia.
Tu, à volta da piscina, a andar, a andar
As torres eólicas – moinhos de vento – D. Quixote
Tu, ali no monte
Tu, ali à beira-mar
8 de Agosto – um rapazinho
Um vulto esguio, a descer as escadas
Como se viesses jantar
O canal MEZZO, passeios na FNAC
Lágrimas sempre prestes a brotarem
Um bebé alegre de olhitos negros
Tu na cadeira da varanda a relaxar
Uma praça em Barcelona
Saudades de Moledo
Cansaço
O nosso cansaço
Dar a volta por cima, uma vez
Dar a volta por cima, outra vez
A tua mão que segura a minha, por detrás do assento
E sempre...
“Mamã, vamos dançar?”
Um filho já pai
Sempre a fuga dos olhares
O medo de sair da toca onde me sinto segura
O ódio ao tempo
Um rosto de perfil sobre uma almofada
Um respirar cada vez mais lento
Uma mão quieta
Cravos vermelhos, numa jarra
Cravos vermelhos
A palavra doce “mãezinha”
Umas mãos de criança que se agitam
Raiva ao tempo
Insónia
Insónia
Os sons do David
Saudades do abraço da noite
A palavra David
As coisas em que não toco do David
Uns pezinhos alegres de menino
Um blog triste
Saudades
O espaço que se fechou e me arrepia
Uma tentativa infrutífera de pintar a vida de fresco
Roupas de criança
Brinquedos num quarto amarelo
Uma bicicleta parada, pendurada, enferrujada
A imagem que o espelho me devolve
Não me reconheço
A angústia ao anoitecer
A saudade amordaçada
Os contornos (im)precisos dum momento de ruptura
A estranheza do acordar
Tanto tempo
O espanto
Tão pouco tempo
Dias tão longos, parados no tempo
Um menino chamado Miguel
Um quarto quase sempre fechado
Sempre o espanto
Um palco escuro e desmantelado
O encanto de uma jovem mãe
Gaivotas no mar
Uma certa rocha na praia de Moledo
Há coisas que não podem acontecer
Passeios pela FNAC
O teu relógio de pulso no meu pulso
O meu jardim parado
O sorriso e ternura do meu filho, como jovem pai
Gatos que descem pelos muros
A ausência e o silêncio
As guitarras encostadas à parede
A inocência duns olhos de criança
Aviões
Os que nos levaram à procura de mais tempo
Os pássaros nos pinheiros
Um rapazinho a palrar
Tu, no pátio de Moledo, a descansar
“Mamã, vamos dançar?”





CHOVE
>
> Chove o velho ano vai-se embora
> Diz adeus ao que ido já suou
> Mas contudo olhando-se ele já chora
> Do tempo em que perdido pouco amou
>
> Em sua rota no fim se levantou
> De novo e persistente a toda a hora
> Grito de novas guerras se soltou
> E que insiste em não soltar a nora
>
> Corre o grito bramido estrada fora
> Do clamor das desgraças que criou
> Para lá das lágrimas soltas desta tora
>
> Chove envergonhado do que criou
> Endémica é a miséria que o já cora
> Triste ao mirar-se no que passou
>
> Ano velho, roupa velha e relha!
>
> Jaime Latino Ferreira > Estoril, 30 de Dezembro de 2008

8 comentários:

Anónimo disse...

FARRAPOS DE UM PATCHWORK POR CRIAR


A imagem que o espelho me devolve

São farrapos dispersos pelo molhe

De um ano estiolado que passou

Lembranças sem alinhavo que criou

E ele em mim se tolhe e colocou

Nas mãos o tricotar que albergou

Momentos que contraditos me revolvem

Na busca do novelo que o acolhem

Ao ano que passado vai embora

E deixa aos instantes hora a hora

-.-

Hora que na hora vê o dia que passou e não importa porque da porta que se abre e abre para fora não vê que o dia se se vai com o ano cai e no meu ai se foi embora

-.-

Jaime Latino Ferreira
Estoril, 31 de Dezembro de 2008

Anónimo disse...

As Casas de David

Trezentos e sessenta e cinco dias e em cada dia uma casa

Oito mil setecentas e sessenta horas e em cada hora alguém passava por aqui

E lia e entristecia e chorava e esperançava

E trazia abraços e beijos e saudades e desejos

Dois mil e oito anos e a dor nunca é igual

O David tem muitas Casas, tantas quantos os que o amam

O David tem muitas Casas, tantas quantos os que o conheceram entre as linhas e as letras destas páginas

a Isabel
o Manel
a Nini
a Olga
a Diana
o Jaime
a M.M.
a Branca
a Filomena
a Isa
a Paula
a Marina
a Eunice
o António
a Linda
a Cristina
os anónimos

e todos os outros dos quais não consegui fixar o nome

O David tem decerto uma Casa Nova, onde da varanda com vista para o universo iluminado de estrelas, reafirma o seu convite eterno

"Dás-me a honra desta dança, minha Mãe?"

Manuela Baptista

Estoril, último dia do ano de 2008

Anónimo disse...

TALVEZ


Um blogue triste

Talvez

Onde se encontra tempo

A contra-tempo

Talvez

E expia a morte

Daquele que é Teu

Talvez de talvez

De muitos porquês

E talvez

Onde desassombrada irrompes

Nos tempos que vês

Da raiva que trava a vontade talvez

Talvez

Talvez lassidão

De só

Solidão

Talvez

Talvez o que queiras te dê o perdão

Talvez


Jaime Latino Ferreira
Estoril, 31 de Dezembro de 2008

Anónimo disse...

Isabel,
Passei hoje aqui, na sua casa...
já aqui não vinha há algum tempo, não por medo de ser mal recebida, mas porque me quis afastar da sua tristeza... por vezes dizia que a sua tristeza me fazia mal...e no entanto a sua tristeza é uma lição de vida, na sua tristeza tenta todos os dias viver e sorrir àqueles que ficaram, o seu netinho, o seu outro filho, a sua nora e tantas outras pessoas...
Percebe-se isso nos textos, Vê-se o seu esforço diário, sente-se...
O que lhe posso desejar nos princípios deste ano que agora começa?
As coisas banais que todos desejamos uns aos outros...não lhe vou dizer para ter coragem pois já a tem, uma enorme coragem, uma mãe coragem é o que a Isabel é!
Como o seu David queria, como ele a via... uma mãe coragem...
Aceite um beijo muito grande.
Filomena

Ana Cristina disse...

Apagam-se as luzes e arrumam-se os enfeites de Natal.
De repente as casas parecem vazias.
As ruas sombrias.
As pessoas sonâmbulas,moribundas.

Este país é,nos dias que correm,definitivamente, para "velhos"!

1 beijo
Nini
(à espera que algo aconteça)

Teresa disse...

Isabel,

esta é a manta de retalhos dos seus sentires, dos viveres da sua alma nos últimos tempos.

Será a manta por terminar dos seus próximos tempos, também...

Pensei em si em todos os dias das minhas férias. Calcula porquê, não calcula? Estive sempre em Lamego...

Segue por mail o seu presente de Natal.
Na Sé, mesmo em frente ao sítio que sabemos, rezei pelo bem estar da Isabel e dos seus.

Beijo imenso, Isabel.

Deixo um beijo também ao comentador Jaime.

Votos a ambos de que 2009, podendo não ser perfeito, seja, no mínimo, tranquilo...

Albertina disse...

Isabel
Desejo-lhe um 2009 menos penoso que o 2008 e o fim de 2007...
E que esse rapazinho que 2008 trouxe lhe arranque os sorrisos que o David espera voltar a ver.
Um abraço apertado

Joaninha a voar disse...

Um abraço muito quentinho só para desejar um ano cheio de força.