Pela minha parte, agradeço tudo o que me deram - atenção, afecto e respeito pela minha forma de estar.
E, hoje, nasceu uma menina especial. Chama-se Violeta.
Não a conheço, ainda.
Não sei se a virei a conhecer tão cedo.
Seria neta da minha melhor amiga, dentre os amigos de adolescência.
Chamava-se Fernanda.
Fernanda Cardoso.
Era grande, alta, enorme. E tinha uma gargalhada que movia montanhas.
Era a minha amiga.
Aquela a quem se conta tudo; aquela com quem se fala horas ao telefone e, pelo meio, se cozinha e se atende quem nos bate à porta.
Aquela que se ria na minha cara das minhas preocupações e tudo relativizava.
Aquela com quem ia pela noite dentro a jogar cartas ou o Risco, em que conquistávamos o mundo.
Aquela que, um dia, caiu numa rampa da escola.
E logo um veredicto atroz...
Aquela que confessou que, se pudesse, mesmo que morresse, a seguir, gostava de ter mais um filho - o 4º.
Aquela com quem inventava enfeites de Natal um pouco tolos - só chocolates na árvore que chegava despida ao dia 25.
Aquela com quem partilhava coisas estranhas, como comprar um vitelinho, pagarmos para que o criassem e, no fim (coitado!), dividiamo-lo a meias.
Aquela que "bebia" queijo da serra por uma palhinha porque já não podia mastigar... E ria-se.
Aquela a quem levei, quase às escondidas, o filho mais novo a vê-la no hospital.
Ela morria de saudades do pequenino que tinha 4 anos.
As enfermeiras pregaram-me um enorme raspanete...
Mas vi-a com a cabeça do Francisquito no ombro dela e que lhe dizia "Mãe, não voltas a cair, está bem?"
Numa noite de Junho de eclipse da lua, quando partilhávamos o fenómeno lunar, ao telefone (eu, na minha varanda e ela junto da janela do hospital onde fazia mais uma sessão de quimio) disse-me que não lhe agradaria nada que eu chorasse se ela morresse...
Morreu passados dois meses.
Assim, sem mais.
Deixando-me sem jeito e só.
Não fiz o que me pediu.
Chorei muito, muito.
Lembrei-me dela e das gargalhadas dela, quase diariamente, durante quase 10 anos.
Só a morte do meu filho fez com que não a recordasse da mesma forma e com a mesma frequência.
Ela adorava o David e o David adorava-a a ela.
Foi o primeiro rude golpe na minha percepção do mundo.
Hoje, soube que a filha mais velha, a Ana Bárbara, teve uma menina, a quem chamou Violeta.
Gosto de imaginar o enorme sorriso da Fernanda.
E do David, claro!
Se lhes tiver sido dada a possibilidade de escolher, estão, com certeza, juntos.
Lá... longe.
5 comentários:
Olá, Isabel!
Já tinah ouvido falar da Fernanda através de si e o David... Porque é que a vida de algumas pessoas tem que ser tão dura?! Há coisa que acontecem completamente fora de tempo...
Um beijinho grande
Olga
VIOLETA
Nome de uma menina
Que nasceu com uma sina
Tem a cor dos paramentos
Que se vestem nos adventos
-.-
Cruzam-se os pensamentos
Ao olhá-la sobre os ventos
No Natal nasce a que ensina
Dum presépio até à esquina
-.-
Nasce a criança uma quina
Violeta de meus lentos
Poemas que choram aos centos
-.-
Violeta dos inventos
Castelos em minha crina
Amores meus são minha mina
-.-
Em memória de Fernanda Cardoso no nascimento de Sua neta Violeta
-.-
Jaime Latino Ferreira
Estoril, 23 de Dezembro de 2008
Estão juntos, de certeza, Isabel!Ainda ontem disse ao meu filho Manel, que a avó e a tia Cláudia estavam de certeza a enfeitar-se para a Noite de Natal, que certamente vão passar juntas. Em cima de uma Estrela!E a rirem, como elas tão bem sabiam fazer!Talvez se cruzem com o David e com a Fernanda tal como nós nos cruzámos por aqui.
Bem vinda, Violeta!Que tenhas o privilégio de vires a ter uma AMIGA como estas de aqui falamos!
Um bjs, MM
olá Isabel
passei para lhe desejar um Santo Natal e deixar-lhe um especial beijinho
Beijinhos do tamanho do Mundo
Isabel
Falar assim de amizade é de quem tem um grande coração. A sua amiga e o David devem estar felizes com o nascimento da pequena Violeta... vai ser uma menina bem protegida - por dois anjos da guarda!
Desejo-lhe um Bom Natal na companhia de quem ama...
Enviar um comentário