27 dezembro 2008




Espero a Liberdade

Depois do dito

Não há palavras

Que possam voltar atrás
Depois de feito
Não há nada
Que possamos desfazer
O dia terminou
E o pôr-do-sol
Desaparece
A noite começa
E eu apareço
Na escuridão
A auto-estrada está vazia
O meu carro avança
Para outro lugar
Não há tempo para olhar para trás
Não há lugar para mim
Não há lugar para mim
Por onde quer que passe
Ninguém acreditará em mim
Ninguém me ouvirá
Que o oceano dissolva o meu passado
Que o vento leve a minha alma
Decidi esperar pelo dia
Sentar na noite com os olhos
Postos nas estrelas e o meu corpo
Nos céus
Acreditei em mentiras
Para ter liberdade
Mas agora despertei
Porque devemos confiar?

Perdi alguns dos melhores dias
No passado a ouvir mentiras
A esperar
Esperei todo o dia
Esperaste todo o dia
Esperámos toda a noite

Quando seremos livres?

David Sobral, 1993




ESPERA QUE CRESCE NA ESFERA


Espera que cresce na espera da rota da esfera

E roda que roda a rota que esfera

Que espera da rota sentir o que a espera

Na esperança da rota que cresce e que roda

Do fio do novelo que roda na roca

Enreda o novelo da rota que enroda

E enche o novelo na esperança da esfera

Que roda na roca da roda que espera

E espera na esfera da esperança que gera


E roda o que a roca na rota que toca


Na Rotação de Cassiano Ricardo


Jaime Latino Ferreira
Estoril, 27 de Dezembro de 2008

3 comentários:

Anónimo disse...

PASSOS


Não são perdidos

Nem são feitos de embaraços

São caminhos erguidos

Escritos nestes meus traços

São a chama de meus queridos

A liberdade meus braços

Deles não são fingidos

Lugares pegadas meus laços


Jaime Latino Ferreira
Estoril, 27 de Dezembro de 2008

Anónimo disse...

David,

Dizes e repetes que não há lugar para ti ...!

Que se dissolva o teu passado no oceano, que o vento leve a tua alma, que ninguém acreditará em ti, que ninguém te ouvirá tão pouco mas esperas desiludido de mentiras e desacreditado da liberdade na réstia dela que interrogas ...

Mas o teu lugar cresce para lá da noite e rumo ao amanhecer aqui, para lá de aqui, no enfoque que às luzes não desistes de manipular como se, no fundo, ao interrogares-te, já soubesses a resposta que neste lugar se amplifica na luz de uma vela que, incansável, tua mãe alumia sem descanso, ao sentares teu corpo na noite com os olhos postos nas estrelas dos céus!

Interrogamo-nos todos, é certo, uns mais confiados que os outros, onde paira a liberdade!?

E eu, tarde talvez (!), respondo-te:

Nunca é tarde, te digo e afinal, que a liberdade paira por aqui!

É uma fresta, pequena se a não acalentarmos mas grande se a alimentarmos sem descanso como o faz tua mãe e que se abre em via rápida, auto-estrada da imaginação (!) que nos aproxima de ti e de todos os que se foram e que por ela, tão ansiosa e arduamente esperaram olhando ou não para trás.

E são tantos, tantos que assim o fizeram e fazem como tu ...!

Esperaste por ela e não foi em vão porque a outros passaste o testemunho que a continuam, sem descanso, a alimentar!

Eu falo por mim:

Se eu, agora, desistisse de escrever alargando o espaço de liberdade, este fechar-se-ía com estrondo e tudo o que tinha feito até aqui e em seu nome, abater-se-ía sobre mim, ainda que não tivesse sido em vão!

A liberdade alimenta-se a cada passo, em cada escrito, em cada luz que se acende e em todas as demais e ao fazê-lo ela cresce e cresce sempre e cada vez mais ...

De fresta transforma-se em auto-estrada que à velocidade de cruzeiro apenas basta continuar a dar-lhe propulsão que a alimente e guie sem descanso ...!

E assim te respondo porque me, a mim e aos sete ventos, oportunamente, o perguntas.

O perguntas sim porque se o perguntaste, continuas a perguntar!

E perguntas porque, no fundo, já sabias a resposta ou, pelo menos, parte dela ...

Todos nós te ouvimos e não o perguntaste, cantando, em vão!

Jaime Latino Ferreira
Estoril, 18 de Dezembro de 2008

Anónimo disse...

PAPAGAIO


Papagaio que é uma bóia

Balão de encher

Uma jóia

É a vontade de erguer

Como balão que no céu

Prenhe de cor e sem véu

Roda na rota do teu

Querido filho como o meu


Jaime Latino Ferreira
Estoril, 28 de Dezembro de 2008