A luz do pirilampo é a que ilumina o escuro.
É a luz mágica da infância.
Intocável.
Intocável.
CIDADE DE LUZ
Na cidade das trevas cruzam-se corrosivos os sentimentos magoados sem lhes encontrarmos um ponto de retorno, afogando-nos num não retorno carente de expectativas.
Possuídos de auto-comiseração lastimosa julgamo-nos infelizes para lá de toda a infelicidade, inconsoláveis, perpetuamente condenados e exercendo tão excessivo juízo sem qualquer apelo contra nós próprios como se alguma vez pudéssemos ser juízes, os melhores e únicos em causa própria.
Deuses maus e condenatórios, nós próprios cegos aplicadores contra nós mesmos das penas máximas e sem perdão!
Resquícios de um deus antigo e prepotente alojado algures como ruína ainda em nós e a tolher-nos os movimentos na suposta impossibilidade de remissão ...
Mas há, algures, uma cidade de luz e que bem vale procurá-la!
Temos o direito, o dever, diria mais, de procurá-la!!
Vale bem a pena, querida Ana Cristina!!!
É bem possível que nessa busca caiamos e voltemos a cair mas, determinados em levantarmo-nos prosseguiremos e ela vai-se, seguramente, raiando de luz ...
Cada vez mais, aliás, as cidades são mais e mais iluminadas e nós, como luzeiros, vamos deixando um rastro que as podem iluminar ainda mais!
Desculpe-me meter-me assim no meio de uma conversa entre Sua irmã e a Minha Amiga.
Jaime Latino Ferreira
Estoril, 12 de Dezembro de 2008
3 comentários:
A luz é como a água
"Na noite de quarta-feira, como todas as quartas-feiras,os pais saíram de casa para ir ao cinema. Os miúdos, donos e senhores da casa, fecharam portas e janelas, e partiram a lâmpada acesa de um candeeiro da sala.
Um jorro de luz doirada e fresca como a água começou a correr da lâmpada partida, e eles deixaram-no correr até que o nível da luz atingiu quatro palmos de fundo.
Então desligaram a lâmpada, foram buscar o barco e navegaram a seu gosto por entre as ilhas da casa."
"A luz é como a água" de Gabriel Garcia Márquez
A navegação da luz tem os seus riscos, é necessário ser-se mestre nesta ciência.
Manuela Baptista
LUZ MÁGICA
Era tão fantástica a luz que até a ouvia tilintar como um trenó de renas a vaguear pelo céu imenso antes de, poisado nos telhados, distribuir as prendas pelas meias perfiladas na chaminé, na véspera de todas as magias.
A vinte e quatro, aconchegado na cama quente de minha mãe, alimentava fortes expectativas, tão fortes que a via e ouvia deambulando de casa em casa ou escondida pelo verde denso e escuro da vegetação qual pirilampo radioso na sua ronda noturna, intocável e senhor plenipotenciário da noite branca e luminescente de estrelas, fria como a neve e logo caía progressivamente num sono manso e nórdico anunciador da intensidade do dia que se aproximava.
No sonho intocável e perene, infantil, pueril de todos nós, logo este então se desembrulhava cheio das aventuras que pela alvorada, como uma canção, um cântico de Natal, me fazia desfilar pela vista e emprenhava todos os sentidos ...
Heilige Nacht!
Jaime Latino Ferreira
Estoril, 13 de Dezembro de 2008
Isabel, curiosamente o destino levou-me estes dias até à cidade luz! Paris!Curiosamente, também, no hotel onde me hospedei, havia na entrada uns canteiros que se protegiam do frio, recheando-se de amores-perfeitos! Amores-perfeitos iguais aos seus! A quase 4000 km de distãncia, e sem os conhecer, a Isabel e o David preencheram-me o pensamento!Foi um bom momento, acredite!
Jaime, mais uma vêz, o belíssimo texto que aqui nos deixa, me comoveu.
Obrigada! Cheirou mesmo a Noite de Natal!
Um beijo grande para todos,
MM
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