Ando em busca de um tempo perdido mas presente.
Os aviões passam, lá no alto.
Todos regressam de Barcelona. Lá dentro, vimos nós, de olhos vazios e mãos inertes.
Pedimos que nos seja concedido tempo. Queremos mais um bocadinho de tempo.
Queremos respirar o sol de Moledo.
Queremos ver o mar.
Queremos poder, ainda, ter um brilhozinho de esperança, no olhar
Ainda é cedo para nos despedirmos de nós.
Ainda é cedo para fecharmos o coração.
Ainda é cedo para encerrar o livro e deixar folhas em branco.
É cedo para o silêncio.
Mesmo inundado de lágrimas, o tempo é sempre tempo de mais um olhar terno.
De mais um apertar de mãos.
Tenho saudades das tuas mãos; sempre as mãos e o sorriso.
E a música!
Saudade desse tempo inundado de lágrimas...
PENSAMENTOS SOBRE O TEMPO
Vós viveis no tempo e o tempo não conheceis;
Do que sois e onde estais, vós, homens, não sabeis.
O que sabeis é só que num tempo nascestes
E que haveis de partir num tempo, tal viestes.
Mas o que foi o tempo que em si vos deu guarida?
E que será esse Outro que de vós fará nada?
O tempo é tudo e nada, o homem a ele igual;
Mas sobre o tudo e o nada a dúvida é geral.
O tempo morre em si, e de si renasceu.
Um vem de mim e ti, outro és tu e sou eu.
O homem é no tempo, este nele também,
E no entanto o homem, quando ele fica, vai.
O tempo é o que vós sois, vós sois o que o tempo é,
Mas bem menos sois vós que aquilo que o tempo é.
Ah, viesse aquele tempo em que tempo não há,
P'ra nos levar do nosso para os tempos de lá
E a nós de nós mesmos, para podermos ser
Iguais àquele tempo que já deixou de o ser!
PAUL FLEMING (1609-1640)
0 Cardo e a Rosa - Poesia do Barroco Alemão
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