Aqui?
Sim, eu sei que não existes.
Sei que fiquei, aqui.
Sei que não devia continuar a viver, fingindo que estás aqui.
Sei que muitos receiam que eu viva demais, aqui.
Mas aqui, é também a minha casa.
Uma parte de mim é aqui que habita.
Quero continuar um pouco mais, aqui.
Manter a porta aberta e deixar entrar raios de sol e sombra, vindos do passado.
A única forma de aguentar a saudade é vindo, aqui.
É dizendo, aqui, que nada é justo.
Que, aqui, nada de mal me pode voltar a acontecer.
Porque, aqui, me desfaço de ilusões que só podem magoar.
É chorando, aqui, que me dispo da amargura que carrego por aí.
É daqui que levo alguma leveza que me permite olhar de frente, cada novo dia.
É aqui que recupero as forças que vou perdendo por aí.
Ainda é cedo, demasiado cedo, para sair daqui.
Não esgotei o que quero dizer.
As lágrimas não secaram e é aqui que as guardo.
É aqui que recolho os bocadinhos de mim em ti.
A coragem de que preciso só a encontro aqui.
Ainda, é daqui que invento sonhos e calo as tempestades da saudade.
Talvez, um dia...não venha tanto aqui.
Talvez....
Mas tenho toda a vida, longa ou breve, para me habituar à ideia de que já não estás...nem aqui!
Feliz de quem passou por entre a mágoa
E as paixões da existência tumultuosa,
Inconsciente, como passa a rosa,
E leve como a sombra sobre a água.
Era-te a vida um sonho. Indefinido.
E ténue, mas suave e transparente...
Acordaste, sorriste... e vagamente
Continuaste o sonho interrompido.
Antero de Quental
2 comentários:
Ontem estive numa linda floresta,parado junto a um riacho de águas límpidas e cristalinas.Senti que lá poderia estar por toda a Eternidade em corpo e espírito.Em total Silêncio,perguntei:"Onde estás meu Deus".E a resposta veio assim:"Procura-me no Silêncio"...Falei com Ele e disse-lhe:"Sim,eu sei que existes".Tudo no mais Absoluto Silêncio...António
A cada dia que passa o silêncio da casa,se possível é,aumenta a tua presença e marca cada vez mais os meus dias.
Agora que estou mais perto o espelho da tua casa de banho devolve-me a falta de energia,o brilho baço nos olhos,o sorriso regateado, os abraços frouxos e as palavras inseguras.
O Porto de chegada não é ainda(alguma vez será?) um porto de abrigo...quem sabe em Novembro!
A falta que tu fazes à nossa pequena família.
Cada um à sua maneira perdeu-se no caminho que costumava percorrer e onde se cruzava contigo,com a tua doçura, com o teu olhar ...quem sabe o Miguel!
1 beijo da tua tia Nini.
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