Fala-se de dias e dias que escorrem ... sem um filho que partiu! Fala-se à toa ... e escreve-se, sempre, para silenciar a saudade ou as lágrimas. À toa ...
03 setembro 2008
As flores continuam lá...
Toda a minha vida me parece ter-se reduzido a dois anos; o ano antes e o ano depois...mal definidas as fronteiras.
Do tempo anterior, não tenho memória. Surgem imagens que se sobrepoem; outras que se diluem em fumo... Não sei.
Bloqueei, não localizo os acontecimentos.
Tudo se resume a "o ano passado".
Quer tenha sido há um ano, dois ou três.
Revejo fotografias, documentos, ... mas não me revejo.
O meu "Sentimento de si" de que falava o António Damásio desfez-se?
Não procuro os meus pedacinhos, espalhados por aí.
Procuro os teus.
Do tempo futuro, não pretendo nada; não projecto, não antecipo.
Espero.
Corro entre margens que me sustentam.
Serei um rio.
Que, tarde ou cedo, vai dar ao mar.
E tu, David, aguardas-me, sempre, na foz.
A cada instante, na maré baixa ou na maré cheia... Não importa.
As águas misturam-se.
Se não é o mar a avolumar-se, rio acima; será o rio a procurá-lo mais abaixo.
Que nenhuma estrela queime o teu perfil
Que nenhum deus se lembre do teu nome
Que nem o vento passe onde tu passas.
Para ti criarei um dia puro
Livre como o vento e repetido
Como o florir das ondas ordenadas.
Sophia Mello Breyner Andresen
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2 comentários:
Bom dia
Essa planta chama-se Passiflora,é uma trepadeira exótica,pode chamar-se também Flor da Paixão.
Realmente as flores estão lá,até podiamos dar o nome ás flores de Isabel.
As Passifloras mantêm-se enraizadas no solo durante toda sua vida e necessitam de um suporte para manterem-se eretas e crescerem em direção ao dossel,que poderiamos dar o nome de David.
São trepadeiras que fazem questão de estar sempre ligadas e muito dificilmente separamos um vaso de Passiflora criado ao lado de outro.
Unidos para sempre.
Beijinho
Sofia
Mais uma vez a bela poesia de Sophia de Mello Breyner como um prolongamento do seu texto. Encaixa-se perfeitamente.
Passo para lhe deixar um beijinho nestes tempos que sei serem mais dolorodos. Entre Setembro e Outubro, espero por si por aqui e nas esquinas do meu pensamento, estarei consigo e com o David.
Beijinhos.
Branca
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