Martin Luther King
Hoje, ao acordar, a primeira coisa que fiz foi ligar a televisão.
Raramente, ligo a televisão; a não ser à hora do telejornal.
No entanto, hoje, foi o que fiz...
Acordei com a urgência de ter que saber quem era o novo presidente dos E.U.
Na noite anterior, deitei-me tarde, com uma já anunciada vitória de Barak Obama.
Não sei o que se passou na minha cabeça, durante o sono, mas tinha uma urgência enorme em saber o que se passara...para dizer ao David.
Sabia que ele iria pular de alegria, com a notícia...
Ainda houve tempo para ele acompanhar as campanhas...
Ainda houve tempo para preferir o Barak Obama.
Não houve tempo para ver a mudança na história.
Ficou do lado de lá, como diz, hoje o Rui Tavares, no Público.
Eu fiquei contente, senti-me emocionada porque esta vitória me fez acreditar que milhões de pessoas, ainda, têm um sonho.
Ainda é possível acreditar...
No entanto, uma imensa nostalgia, tomou conta de mim.
O não ter o David, aqui, deste lado de cá.
Ele seria o mais entusiasta; provavelmente, deitaria uma lágrima de alegria porque era um sonhador.
Era de sonhos que se alimentava, em cada dia que viveu e conviveu com a doença.
E este é o meu dia-a-dia.
Ter o David aqui dentro, não o podendo tocar por fora.
Sentir o que ele sentiria, não o podendo partilhar.
Vivo, através do olhar dele; dos sonhos que eram dele mas já não são os meus porque se desfizeram em lágrimas.
Junto do mar.
Há um ano, em Novembro, libertei-o no mar de Moledo.
Acreditei que o libertava porque, assim, tinha que ser.
Ele gostava do mar; tinha ido até ao areal, alguns dias antes de morrer.
Libertei-o, debaixo de um pôr-do-sol do sol estranhamente bonito e com as gaivotas por perto.
Fiquei eu aprisionada naquelas ondas.
Os meus dias ondulam, também, ao sabor da tristeza e da saudade.
Regresso, continuamente, àquela rocha, sem me deslocar.
Não é preciso.
A distância que nos separa é fictícia, demora o tempo de um abrir e fechar de olhos a percorrer.
Hoje, acreditei, por um minúsculo espaço de tempo que ia dizer ao David que o Barak Obama era novo presidente.
Apenas, um minúsculo espaço de tempo.
Antes de acordar...mesmo.
Se o David estivesse do lado de cá da História, talvez ouvíssemos e cantássemos em coro a canção " Tanto Mar" do Chico Buarque.
Ouvi-a sozinha e cantei um bocadinho.
Letra "Tanto Mar":
Sei que estás em festa, pá
fico contente
e enquanto estou ausente
guarda um cravo para mim.
Eu queria estar na festa, pá
com a tua gente
e colher pessoalmente
uma flor do teu jardim.
Sei que há léguas a nos separar
tanto mar, tanto mar
sei também que é preciso, pá
navegar, navegar.
Lá faz primavera, pá
cá estou doente
manda urgentemente
algum cheirinho de alecrim.
Letra "Tanto Mar II":
Foi bonita a festa, pá
fiquei contente
'inda guardo renitente
um velho cravo para mim.
Já murcharam tua festa, pá
mas, certamente
esqueceram uma semente
nalgum canto de jardim.
Sei que há leguas a nos separar
tanto mar, tanto mar
sei também como é preciso, pá
navegar, navegar.
Canta a Primavera, pá
cá estou carente
manda novamente
algum cheirinho de alecrim.
4 comentários:
E a América a surpreender-nos e a reinventar-se tal como a Isabel o sabe fazer....
Bjs, MM
NEGRO
Negra
É uma estrela que anuncia
Fusão de tua em minha
Cor
Magia
-.-
Negra
A cor da terra revolvia
Comunga a mesma vinha
Cor
Crescia
-.-
Negro
É o homem que amacia
Sinal que é redentor e que continha
É cor de minha cor
É alegria
-.-
A propósito da eleição de Barack Obama
-.-
Jaime Latino Ferreira
Estoril, 5 de Novembro de 2008
Isabel,
Cheguei hoje aqui e ao abrir este texto tive a mesma forte emoção que tive nesse dia em que abriu a televisão de manhã, porque ao ouvir Barak Obama eu ouvia também nítidamente a voz de Martin Luther King dizendo " Eu tenho um sonho..." e chorei sentindo que a realização desse sonho poderá estar tão próxima, apesar de ter demorado tantos anos desde esse longínquo dia de 1963.
Vejo que a Isabel sentiu o mesmo e associou aqui um lindo pensamento de Luther King.
Mas, é igalmente belo tudo o que nos diz dos sentimentos do David e dos seus sonhos. E maravilha-me que pessoas como o David tão jovens, que não viveram esses longínquos anos sessenta, anos de grandes sonhos e ideais tenham hoje o mesmo sentir.
Esse espírito generoso, preocupado com as questões alheias é o maior legado que lhes podemos dar, mas para o qual é preciso uma enorme coragem nos tempos actuais.
Fico contente por poder viver este sonho por si e pelo David e oxalá possamos fazer tudo para que ele se cumpra.
Um grande abraço.
Branca
Dear Martin,
What you say is truth but I would say even more:
A verdadeira medida de um homem reside na maneira como ele se comporta e mantém, sejam quais forem as circunstâncias mais ou menos favoráveis!
Sincerely yours,
Jaime Latino Ferreira
Estoril, 7 de Novembro de 2008
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