17 novembro 2008

Uma certa forma de prisão




Não.
As minhas ausências temporárias não significam que ande bem ou, mesmo, melhor da saudade que tomou conta de mim.
Não se melhora duma saudade desta dimensão.
Apenas me absorve de tal modo que até escrever se torna, já, inútil.
Nem as fotografias, nem as músicas, nem os textos, nem as palavras ou os gestos mil vezes recordados, nem os diários me serenam.
Nada abranda e, a cada momento de inacção, me sinto perto de novo e cada vez mais fundo precipício, próxima de desistir, de me afundar, de cruzar os braços...e chorar.
E, então, choro salgado. É como se toda a água do mar onde te deixei me percorresse os olhos e brotasse sempre e sempre e sempre.
Faltas-me ... e é tudo.
Nada a perceber ou compreender ou esquecer.
O tempo corre, mas eu permaneço entre telas brancas e virgens que nada conspurca.
Perante os meus sentidos, debruçados para dentro, continuam a passar as sequências dos dias e dos caminhos que percorremos; continuam a desenrolar-se os combates que travámos; continuam a sorrir tenuemente algumas boas novas que nos empurraram para a frente; continuo a afundar-me em cada ilusão, logo e cada vez mais cruelmente, desfeita; continuamos a apertar as mãos num acordo tácito e mudo de que vai ser preciso ter coragem.
E tivemos tanta coragem; tu tiveste tanta, tanta coragem ... a chegada é sempre igual...

Nestes últimos dias, tem-me vindo à mente uma conversa brincalhona que o David tinha comigo.
Dizia-me, ele " Apesar de mãe galinha, portaste-te muito bem quando o Sérgio saiu de casa. Não choraste, não fizeste "cenas". Como eu passo o dia por aqui, contigo, vai custar-te muito mais, quando eu sair. Vai-te mentalizando!! Está a chegar o meu dia!"
E sorria-me com ar gozão!
E chegou esse dia.
E nada foi como sonhara.
Ficou prisioneiro, aqui.
E eu com ele, com os sons da música dele.

2 comentários:

Anónimo disse...

Sorri quando a dor te torturar
E a saudade atormentar
Os teus dias tristonhos vazios

Sorri quando tudo terminar
Quando nada mais restar
Do teu sonho encantador

Sorri quando o sol perder a luz
E sentires uma cruz
Nos teus ombros cansados doridos

Sorri vai mentindo a sua dor
E ao notar que tu sorris
Todo mundo irá supor
Que és feliz
Charles Chaplin

Um bjs, MM

Anónimo disse...

A PAUTA MUSICAL

A pauta musical é uma grelha onde se registam as três dimensões do espaço na sua interacção matemática com o tempo onde altura e largura mais a profundidade se ajustam em fracções de relatividade temporal impulsionadas num andamento variável e que no seu cromatismo sonoro nos ilumina!

Jaime Latino Ferreira
Estoril, 20 de Novembro de 2008