07 novembro 2008



É este o olhar que me sossega, ainda agora ... passado tanto tempo!
Só nele, encontro força para olhar em frente.
Quando tudo me parece vazio de sentido ou tudo pesa demasiado.
Olho as fotografias espalhadas pela casa e sei que me dizem "Então, mamã, avança! Há tanta coisa interessante p'ra fazer. E tens tanto tempo. Não vais ficar aí sentada, poi não?"
Tempo, ... sempre o tempo a comandar todas as vidas, a minha vida, sem olhar para o lado; sem ver quem leva arrastado, atrás de si.
E eu, agora, aqui, sentada acorrentada ao tempo.
Olho estes olhos que falavam...
Sabia sempre o que diziam!
Alegria, amargura, cansaço, ilusões, sonhos...
Sempre soube o que diziam.

Não passou

Passou?
Minúsculas eternidades
deglutidas por mínimos relógios
ressoam na mente cavernosa.

Não, ninguém morreu, ninguém foi infeliz.
A mão- a tua mão, nossas mãos-
rugosas, têm o antigo calor
de quando éramos vivos. Éramos?

Hoje somos mais vivos do que nunca.
Mentira, estarmos sós.
Nada, que eu sinta, passa realmente.
É tudo ilusão de ter passado.

Acordar, viver

Como acordar sem sofrimento?
Recomeçar sem horror?
O sono transportou-me
àquele reino onde não existe vida
e eu quedo inerte sem paixão.

Como repetir, dia seguinte após dia seguinte,
a fábula inconclusa,
suportar a semelhança das coisas ásperas
de amanhã com as coisas ásperas de hoje?

Como proteger-me das feridas
que rasga em mim o acontecimento,
qualquer acontecimento
que lembra a Terra e sua púrpura
demente?
E mais aquela ferida que me inflijo
a cada hora, algoz
do inocente que não sou?

Ninguém responde, a vida é pétrea.

Drummond

1 comentário:

Anónimo disse...

CAVERNA

Que se passa aqui em cima que eu não vejo e sinto ou que se vejo o é o reflexo do sentir que vem de fora e que processo dando luz às profundezas e colorindo essa estranheza num mapa genético que se modula em horizontes abertos e por abrir que é invertido do real ou que simétrico vê o que não vê mas que sentido já só sabe porque crê!?

Jaime Latino Ferreira
Estoril, 10 de Novembro de 2008