14 abril 2008

Primavera?


Abrem as flores, andam aromas de Primavera no ar.
Em Moledo, cheirava a mimosas e jasmim, como antes.
Agora, esse sol e esses cheiros incomodam-me.
Que me importam o Sol e a Primavera e a brancura das casas na encosta, em frente?
São as mesmas de antes... mas os meus olhos mudaram.
Cruzo os braços e abandono-me às recordações que me levam, sempre, de volta a outras terras por onde a esperança se foi, lentamente, diluindo.
Regresso a outras Primaveras em que fui feliz; depois infeliz; outra vez, quase feliz e, agora, irremediavelmente infeliz.

Agora, o meu objectivo, em cada dia, é que o dia seguinte passe depressa. Assim, não encaro, frontalmente, o vazio do tempo presente, este lugar nenhum.
Há passado e um futuro, ainda ausente.
Mesmo assim, hoje, fui violentamente assaltada pela tristeza e por uma agoniante saudade.
E o tempo que não corre! Sinto que fico parada no tempo.
Então, meto-me no carro, arranco sem destino e faço de conta que ando para a frente.
O tempo há-de passar.
E choro sozinha, lá dentro.
Ninguém me pode ajudar... Que adiantaria ir bater a esta ou àquela porta?
É só comigo que tenho que me confrontar.

2 comentários:

Anónimo disse...

Disseram-me que podias integrar um grupo de auto-ajuda para partilhares e ouvires a experiência da perda : a tua e a de outras pessoas que viveram o mesmo. Bem sei que nenhuma perda é igual ; neste caso nenhuma pode ser igual à tua porque o David era e será sempre único.Mas não serão únicos todos os filhos para os pais que os perderam?
Há quem precise cada vez mais de ti : o Manel, o Sérgio, a Carla, a mamã e o papá e o teu netinho que não tarda nada está a nascer.
O David estaria quase a fazer 30 anos. No dia 27 de Abril não sei como conseguirás sobreviver acredita ... mas tens de começar a deixar o sol entrar porque o teu filho David vivia para iluminar os palcos da vida dos outros. Não deve estar a gostar nada de te ver e sentir tão sombria!Será que nas noites de Moledo ainda não viste já a luz da sua estrela? Aqui pelas praias do Guincho na esteira da serra de Sintra nas noites de Primavera que estão a começar a chegar, acredito que a estrela mais "fulgurante" e enérgica do céu é o meu querido Davidocas .. quem sabe a experimentar as luzes de um novo espectáculo para as quentes noites de Verão!!!
Tenho a certeza de que os cheiros de Moledo continuam maravilhosos; tenta outra vez.
Beijinhos.
Nini

Anónimo disse...

Isabel, depois de entreabrires uma janela a dor profunda invadiu-te de novo. Não vais esquecer nunca o teu filho, mas essa dor vai amaciar muito devagarinho. Abriste a porta desta casa e ao fazeres isso já estavas a bater-nos à porta. Mas se isso te ajudar,nos momentos em que te possa ajudar larga o teclado e toca ou bate à porta de quem quiseres que te ouça naquele momento ou que vá contigo berrar para o cimo de um monte, ou... Ás vezes isso ajuda a pegar de novo nos remos partidos e mesmo assim continuar a remar. Até porque dentro do teu barco tens os que te amam. E, de outro modo, o David, de quem continuarás a falar-nos. Eu quero saber mais, conhecê-lo melhor através de ti. O meu pai morreu quando eu tinha nove anos. A minha mãe sempre falou dele. Ficou vivo no nosso coração e na nossa memória. Ainda hoje me dizem que eu falo dele como se tivéssemos convivido muito. Assim vai ser quando falares do David ao Miguel. Um beijo. Zé