18 abril 2008

É Outubro...

O David morreu há seis meses, num Outubro cheio de sol.
Teve uma vida intensa e breve.

Como é possível ter passado tanto tempo, se ainda sinto as mãos dele, se ainda percorro o caminho que tantas vezes nos levou ao hospital, se ainda o vejo deitado no sofá e sinto o seu cheiro, no quarto?

Sempre soube que não havia regras nem certezas, mas fui-me convencendo que a coragem e determinação, com que o David percorria a doença, pudessem salvá-lo!
Repentinamente, a sombra da morte agigantou-se e a casa emudeceu.
Os livros, os filtros de cores e o leitor de CDs, misturados com os cremes de massagens, continuam na mesinha de cabeceira e deles emana uma voz distante e breve.
A música que ouço, sendo a mesma, não tem o mesmo som.
Quase nada me é familiar.
Apenas os sentimentos, com que acordo, se repetem.
Uns dias são de saudade imensa e olhos secos, outros de tristeza vestida de nada, outros de pânico e suor como se percorresse os caminhos já mil vezes percorridos e sabendo que a morte não tarda, outros de melancolia que me consome ou de deixar que as lágrimas escorram devagar pelo estreito espaço em que se transformou a minha vida.
Hoje é dia de revolta.
O coração fecha-se, no vazio.


Amigo, perdi o caminho
Eco: O caminho prossegue.

Há outro caminho?

Eco: O caminho é só um.

Tenho de reconstituir o trilho.

Eco: Está perdido e desapareceu.

Para trás, tenho de caminhar para trás!

Eco: Nenhum lá vai ter, nenhum.

Então farei daqui o meu lugar.

Eco: (A estrada continua.)
Permanecerei imóvel e fixarei meu rosto

Eco: (A estrada avança.)

Ficarei aqui, ficarei para sempre.

Eco: Nenhum se fica por aqui, nenhum.

Não consigo encontrar o caminho.

Eco: O caminho prossegue.

Oh, os lugares por que passei!

Eco: Essa viagem acabou.
E o que virá por fim?

Eco: A estrada prossegue.

Edwin Muir

3 comentários:

Luísa disse...

Um beijinho...

Anónimo disse...

1 beijo porque não há mais palavras.
Nini

Olga Almeida disse...

Reencontro sempre o David em pensamento. Vamos percorrendo juntos o caminho que temos para andar. Mas, os barulhos não me deixam viver as coisas de um forma continua, por isso, vou-me encontrando com ele nos silêncios do dia. Será sempre assim.
Beijinhos