Fala-se de dias e dias que escorrem ... sem um filho que partiu! Fala-se à toa ... e escreve-se, sempre, para silenciar a saudade ou as lágrimas. À toa ...
01 abril 2008
Há um ano...há dois anos
Sempre o tempo.
As minhas agendas e as tuas são a minha âncora; uma dependência que não quero, ainda, largar.
Ajudam-me a suportar os dias porque regresso atrás, ao tempo em que me estendias a mão, apertavas a minha e me sossegavas.
Embora tenha sido um tempo-trapézio, em que tínhamos que manter o equilíbrio para não cairmos no fosso da angústia.
Mas estavas cá e o teu ânimo e optimismo de então são, agora, a rede que me ampara.
Mesmo agora, és tu quem me dá maior força e me ajuda a seguir em frente.
Com destino ou sem destino, tanto faz...
Há 2 anos, vivíamos em estado de choque. Tinham-se confirmado as piores suspeitas e foi mais um fim de semana em que fingimos viver normalmente, sabendo que tal não era possível. Éramos marionetas.
Há 1 ano, vivíamos momentos de alguma "felicidade" porque havia uma luz e tu andavas a organizar o espectáculo do Zeca.
Na tua agenda, consta apenas "Descanso Absolut Vodka em Moledo". Eras assim!
E Moledo era o nosso refúgio.
Amanhã, não haverá mensagens neste Blog. Sei que não vais sentir-lhe a falta.
Já não existes. Estou ciente disso!
Mas sou eu quem sente a falta de "fingir que falo contigo".
Escreverei no meu diário e levo o teu passepartout comigo.
Este é um poema, cujo non sense te agradaria.
Tem algo de ti - Paixão, Cigano, Palhaço - músicas de Egberto Gismonti, de que tanto gostavas.
"Paixão" porque eras apaixonado pelas pessoas e pela vida.
"Cigano" porque gostavas de "andar na estrada", de teatro em teatro; de voar para sítios distantes.
"Palhaço" porque tinhas um sentido de humor especial que cativava e gostavas de ver toda a gente feliz.
Esta foi a homenagem que dois amigos teus te fizeram, num concerto que te foi dedicado.
PROJECTO DE SUCESSÃO
Continuar aos saltos até ultrapassar a Lua
continuar deitado até se destruir a cama
permanecer de pé até a polícia vir
permanecer sentado até que o pai morra
Arrancar os cabelos e não morrer numa rua solitária
amar continuamente a posição vertical
e continuamente fazer ângulos rectos
Gritar da janela até que a vizinha ponha as mamas de fora
fazer gestos no café até espantar a clientela
pregar sustos nas esquinas até que uma velhinha caia
contar histórias obscenas uma noite em família
narrar um crime perfeito a um adolescente loiro
beber um copo de leite e misturar-lhe nitro-glicerina
deixar fumar um cigarro só até meio
Abrirem-se covas e esquecerem-se os dias
beber por um copo de oiro e sonharem-se Índias.
António Maria Lisboa
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2 comentários:
As tuas palavras fazem falta nestes dias em que foste , e bem, com o Manel respirar outro ar e outras ruas.
Espero que estejam bem os dois.
Bom regresso.
Beijinhos.
Nini
Também eu senti falta destas palavras que me fazem ficar perto do David e das pessoas que tanto gostam dele. Porque em cada uma delas encontro um bocadinho do David.
Venho sempre aqui para tentar aliviar a saudade e a revolta de não o poder ter perto de mim fisicamente, porque na mente e no meu coração estará sempre. Como disse a Diana, "Longe do corpo perto do coração!" Beijinhos
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