19 dezembro 2008

"Que a Fortuna não deixa gozar muito"



Ontem foi dia 18.
14 meses desde que o David morreu.
Há quem diga que já foi há muito tempo.
Há quem me pergunte como é possível que eu tenha ainda tantas lágrimas.
Há quem me diga que não posso continuar assim.
Há quem me diga que eu e o Manel fizemos tudo o que podíamos.
Pois é...
Mas é assim...
Não se é mãe para isto.
E à minha volta, estão sempre a acontecer coisas que eu logo associo ao David.

Desde que o David adoeceu, desabituei-me de ver televisão. Tinha coisas mais urgentes a fazer e a atenção era toda dirigida para o meu filho.
Passei a ver algumas séries rápidas - CSI, Bones, Dr. House.... - que não exijam muito tempo de atenção e concentração.
Ontem, por acaso, liguei para a RTP.
E fui vendo, um pouco desatenta, o programa que a Catarina Furtado apresentava e que estava relacionado com o multiculturalismo da nossa actual sociedade portuguesa.
E fui vendo...
Comecei a sentir um certo mal-estar que não compreendia.
Os artistas convidados eram bons.
Ao contrário do que é costume, na televisão que é pródiga em divulgar música pimba, fraca de conteúdo... E dos outros (Sérgio Godinho, Fausto, Janita...), nada.
Fez-se, então, luz na minha cabeça.
Muitos dos cantores e artistas que iam passando ... tinham tido a luz do David ou eram apreciados por ele ou tinham, para mim, de alguma forma, a marca dele.

A Maria João, ontem, acompanhada ao piano pelo Mário Laginha, gostava das luzes do David. Disse-me, um dia, "o David era um jovem muito talentoso e inovador".
Vi também o Bernardo Sassetti, com quem o David trabalhou e por quem o meu rapazinho nutria enorme carinho e admiração. E penso que essa estima era mútua porque me disseram que o Bernardo vai lançar um novo CD e que uma das músicas é dedicada ao David.



O Mário Laginha ... conheci-o, pessoalmente, num dos espectáculos com luzes do David. E foi-me apresentado pelo meu filho que gostava de apresentar a mãe. Gostei dele, simples e de sorriso tímido.

O Rão Kiao. O David acompanhou-o numa tournée pelo país. E gostou do músico, do Sr. Alvim, guitarrista já idoso, que o acompanhava e com quem o David adorou conversar.
Depois tocou o Carlos Martins, saxofone,...
Há um programa do Jazz Faz Tarde (do David) que é dedicado a este músico. Aprendemos a gostar dele, aqui por casa. Com os seus Sons da Lusofonia.


Na bateria, estava o Alexandre Frazão, também conhecido do David, nos muitos concertos em que se encontravam.

E o Chapitô!! Esteve representado por um brasileiro, de quem não fixei o nome. Porque, neste caso, foi o Chapitô a ligação.
O David deu lá aulas de luz, durante 3 anos.

E vi desfilar o tempo.
As cenas sucederem-se com os entusiasmos associados e os sms que chegavam "Altamente!", "Lindo, mamã", "Muy bueno!"...
E pensei na crueldade do destino e no quanto ficou por fazer ao meu filho!
Tantos sonhos tinha "naquele engano d'alma ledo e cego..."

Os sonhos dos filhos transferem-se para as mães, por uma estranha forma de capilaridade.
Deve chamar-se amor.
Ou lágrimas.

6 comentários:

Anónimo disse...

Isabel, que maior reconhecimento se pode ter quando se diz que:"gostava de apresentar a mãe"?
Quando os meus filhos crescerem, espero que também gostem de o fazer! É sem dúvida das coisas mais belas que podemos sentir!É sentido de missão cumprida, é AMOR.
MM

Ana Cristina disse...

Ontem foi dia 18...
Mas neste mês de Dezembro todos os dias parecem ser "dia 18".
Dias de saudades.
Dias estranhos e imperfeitos.
Dias frios.
Dias que passam sem sorrisos porque tudo o que faço acaba no confronto com o inevitável- um lugar vazio.

Nini

Anónimo disse...

DOS QUATRO AOS QUINZE

Querida MM,

Eu então, andei por lá, pela Escola Alemã, primeiro no Estoril até à quarta classe e depois em Lisboa até ao quinto ano dos Liceus!

Tannen Baum, Es war einmal ein Kukuc, Hopf, hopf, hopf, Pferdchen auf gallop, und so weiter, etecetera ...!

É assim mesmo, quando antigos colegas se encontram, aí vem o manancial de recordações e neste caso em alemão!

Desculpe Isabel e já agora, também o polvinhado que como me chamou à atenção a Manuela, é com o e não com u!

O parágrafo acima em alemão, nomeia apenas canções infantis que eram gradas, ao tempo, na Escola Alemã ...

Cruzemos as nossas conversas e sentires mesmo naquele que como diz, querida MM, é um blogue triste!!

Ao fazê-lo animamo-lo sem que todos nos tenhamos que prostrar dando, desminta-me Isabel (!), outro alento a todos os que por cá passam!!!

Enchendo-o de linhas cruzadas e de gradação cromática ...

Heilige Nacht, stillige Nacht é também uma celebérrima canção de Natal alemã ...

Noite feliz e mesmo se desejada pela manhã!

Jaime Latino Ferreira
Estoril, 20 de Dezembro de 2008

Anónimo disse...

AMOR E LÁGRIMAS

O amor é a água de uma fonte, água pura e cristalina, fonte da qual escorre ininterrupta bastando para isso alimentá-la de vida, vida que sem a morte não existe e que quanto mais escorre mais dela brota, inextinguível, perpetuamente.

É uma fonte salgada, sabor a mar e que nasce na maresia.

Jaime Latino Ferreira
Estoril, 20 de Dezembro de 2008

Branca disse...

Isabel,

Deixo-lhe um grande beijinho, um abraço enorme.
Do talento do David já tive oportunidade de o ver, como sabe e não tenho palavras, era realmente extraordináriamente inovador.
Desejo-lhe dias o melhor possíveis para si.
Quanto ao haver quem diga que já foi há muito tempo, para ser sincera eu acho mesmo que foi há muito pouco tempo, acho sinceramente que agora é que as saudades se agudizam, poderia dizer-lhe o contrário mas sei que para si não faria nexo, não é a sua realidade, a única coisa que podemos dar-lhe de bom, é a nossa amizade, mas também lhe faria bem concerteza falar com outras pessoas que viveram a mesma experiência, quem sabe a associação "Âncora" que de certeza conhece. No entanto a Isabel é uma pessoa com uma grande formação, conhecimentos e cultura para saber por onde vai, mas se precisar de ajuda deve procurá-la´e estou convencida que sabe disso.
Um beijinho de amizade.
Branca

Anónimo disse...

E "os filhos brilham nos olhos das mães" (Saramago; e nas palavras também. Nas tuas, o David.
Porque nunca vai passar muito tempo.
Foi sempre ontem.É sempre hoje
Um beijo,