28 abril 2008

Esse país estrangeiro, o tempo.



Há 30 anos nasceu um menino. Era meu.
Pequenino, bonito... um bebé, mesmo.
Na solidão do quaro da Ordem, procurei um nome que lhe ficasse bem.
Chamei-lhe DAVID.
O menino cresceu, fez-se homem, jovem adulto.
Rapazinho de olhar doce e sorriso meigo.
Sem medo de demonstrar emoções.
Com sonhos, alegrias, tristezas, frustrações, desilusões e, de, novo, novos sonhos, sempre mais ambiocosos. Mas seguros e rigorosos. Um profissional.
Sobrou sempre um lugar para a mãe, que, por razões que só o coração conhece, adorava.
Era eu...
Foi um orgulho e gratificante ser a mãe desse eterno rapazinho.
Ele foi-se, não sem que, um dia, me dissesse "Não tenho medo de morrer. Se acontecer, o meu único desgosto é que tu não mereces! E sofro por ti."
Também, num dia, de maior tristeza me disse :"Mamã, acho que não chego aos 30."
Acredito que não acreditasse no que dizia. É o meu refúgio.
Mas foi, hoje, o seu aniversário.
Não falei dele...não quero perturbar ninguém com o peso que me aperta
Sonhos? Projectos? Certeza de ser amada?
Cerraram-se na imensidão do tempo e do espaço.

Nada a declarar, deste vazio de ternura.
Foi bom ser tua mãe.


Volta até mim

Volta até mim no silêncio da noite
a tua voz que eu amo, e as tuas palavras
que eu não esqueço. Volta até mim
para que a tua ausência não embacie
o vidro da memória, nem o transforme
no espelho baço dos meus olhos. Volta
com os teus lábios cujo beijo sonhei num estuário
vestido com a mortalha da névoa; e traz
contigo a maré da manhã com que
todos os náufragos sonharam.


Nuno Júdice

1 comentário:

Anónimo disse...

A tristeza parece aumentar em cada segundo que passa e sinto que mergulho num vazio imenso em que apenas procuro o sorriso ou o abraço do meu querido sobrinho.
Há 30 anos nasceu um ser único,maravilhoso e inesquecível.
"Volta até nós David".
Beijinhos.
Nini