Fala-se de dias e dias que escorrem ... sem um filho que partiu! Fala-se à toa ... e escreve-se, sempre, para silenciar a saudade ou as lágrimas. À toa ...
31 dezembro 2010
Seguir!
09 dezembro 2010
Razon de vivir
http://www.youtube.com/watch?v=bfIfaqCCfgo
Mercedes Sosa |
Esta sangre en tierra
Este corazon que bate su parche
Sol y tinieblas.
Por estos desiertos
Para recalcar que estoy vivo
En medio de tantos muertos;
Para continuar
Para recalcar y considerar
Solo me hace falta que estes aqui
Con tus ojos claros
Razon de vivir mi vida
De nuestros dias
Esta soledad que llevamos todos
Islas perdidas
De perderlo todo;
Para analizar por donde seguir
Y elegir el modo
Para descartar
Para analizar y considerar
Solo me hace falta que estes aqui
Con tus ojos claros
Razon de vivir mi vida
Sin perder distancia
Para estar con vos sin perder el angel
De la nostalgia
Sin pedirnos nada
Y considerar que todo es hermoso
Y no cuesta nada,
Para estar con vos
Para descubrir y considerar,
Solo me hace falta que estes aqui
Con tus ojos claros.
Razon de vivir mi vida.
08 dezembro 2010
O sonho dos outros
Cecília Meireles
Contra natura
Se a morte de um filho é contra natura, como se pode esperar que eu viva naturalmente?
Se viver naturalmente é deixar que os dias escorreguem, esperando muito pouco e quase nada pedindo ... talvez eu viva de forma penosamente natural.
Dizem-me "Se tal me acontecesse, enlouquecia! Não aguentava!"
Quem pode assegurar a minha sanidade mental?
"Tenho tanta admiração por ti, Isabel. Como consegues?"
Quem diz que consigo?
Só por andar por aí?
Às vezes, sem perceber o que se está a passar à minha volta ... porque "estou ausente"...
Só eu conheço bem a cor da dor que navega no sangue que me corre nas veias!
...
Escondo-me entre dedilhares de cordas que me fazem lembrar os sons do David.
Fecho os olhos.
Deixo-me escorrer.
http://www.youtube.com/watch?v=0DEKQjj6Ga0
29 novembro 2010
Recompensa! Não espero.
14 novembro 2010
Faz, muda, altera, não faças ...
Paris, a luz da cidade, a cidade LUZ, as comidas preferidas do David,
algumas lágrimas e a saudade,
não tanto pelo que alberga,
mais pela arquitectura, mais pelos jardins suspensos, Branly,
perto da torre Eiffel,
muitos desenhos de luz,
eu na penumbra, sempre,
apesar da luz brilhante do sol, que me aquece.
E que me agrada!
Faz um esforço mais,
Isto que faço não se chama viver?
Então e Moledo e o livro terminado e o jardim
Chipre,
o mar azul e quente, sobretudo o mar azul e quente,
azul
dos telefonemas aos filhos
...
Tens de viver!
E tudo o que faço ... não se chama viver?
Ou tentar?
Maldito cansaço!
Fá-lo por ti!
E o tricot?
Tens-te esquecido do tricot!
Faz um esforço por ti.
03 novembro 2010
Marionetas
Já não vai ler o quanto lhe agradeço no livro "Mamã, vamos dançar?" a confiança que sempre depositou no David e o apoio que lhe deu, até ao fim.
Um fim ... que foi acontecendo como se nada fosse.
Um fim, com luz e palco ... sempre ali ao lado.
Como se nada fosse!
Como se pudéssemos continuar a falar dos amanhãs de Jazz, de festivais de percussão, de rabiscar projectos, de sonhar.
É verdade, David, o João Paulo morreu e esta cidade, mais uma vez, quase não estremeceu.
Os mesmos de sempre choraram o seu desaparecimento.
Umas notícias de rodapé.
Comentários no Google.
Não chega!!
O meu coração entristeceu; tu ficarias desolado.
Tinhas razão - esta cidade não merece os seus artistas, os que a fazem brilhar lá fora, os que continuam a lutar por um espaço cultural digno... contra ventos e marés.
Os que buscam a beleza.
Os que acabam por se aninhar nos nossos corações, porque fizeram coisas bonitas e dedicaram a sua vida a construir torres feitas de sonhos, suportados por lindíssimas marionetas.
Foi um lutador como tu, David.
Foi teu amigo.
Foi-se e senti que mais um fio que nos liga ao passado, se quebrou e sabes, filhote, senti o coração mais amargurado e sem ânimo.
Hoje, apeteceu-me dizer "Obrigada, João Paulo!"
Por mim.
Pelo David, certamente.
18 outubro 2010
O sol brilhava
É, sobretudo, de um quarto cheio de sol que me lembro.
Um sol teimoso.
Um quarto claro.
Uns olhos fechados.
Uma figura esguia, comprida e franzina, adormecida, com a face esquerda encostada à almofada.
Umas grades que eu tentava, desesperada, baixar.
Para te prender a mim.
Para me segurar a ti, meu David "O BOM".
E me levares.
A tua mão na minha; subitamente mais abandonada.
Várias mãos na tua.
E, hoje, sempre, as mesmas lágrimas que a saudade não seca.
Não me queixo das lágrimas.
Não ligues.
Deixa-me, chorar um bocadinho.
E ouvir-te ...
Crescer
O meu espírito cresceu
Cresceu tanto que o meu corpo acendeu
Vejo agora ideias que nunca tinha visto
E vou idealizar as ideias que quero ideais
Organizar o pensamento para obter sempre, sempre mais
Já não me importa o que existe lá fora
Nunca me senti mais exacto do que quero agora
16 outubro 2010
Que lugares serão reais
Luso. Estou no luso, David.
Num daqueles encontros "familiares" do INESC. Já não se fazem Há muito tempo.
Hoje regressei. Eu e o Manel, com uma sombra pesada no peito. Com uma saudade a cobrir-nos os ombros.
Viemos os dois, só. Antes íamos os quatro, quando tu e o teu irmão eram jovens, pequenos.
Gostavam muito ... um hotel, por vossa conta, descontracção total na segurança do recinto, jogos, piscina, brincadeiras nos quartos dos filhos dos outros "inesquianos" mais ou menos da vossa idade. Horas e horas desaparecidos, num recanto qualquer.
Nunca deixaram de vir com o Manel e comigo aos encontros que se organizaram.
Depois, também o tempo trouxe alterações, mudanças no INESC. Vocês cresceram.
Mas hoje, voltei.
Um mar de tempo tornou-nos grisalhos os cabelos.
Enquanto o Manel foi trabalhar ... passeei por aí; pelos mesmos (restaurados) recantos do hotel ...
E vi os os mesmos filhos da vossa idade, e vi-os passar com as toalhas debaixo dos braços em direcção à piscina, e senti-lhes o suor a cheiro juvenil de quem brincou e saltou muito com outros por cima das camas do quarto onde se refugiaram ...
Vi tudo, recordei os banhos rápidos para aparecerem "decentes", à hora de jantar.
Vim com amigas que também trouxeram filhos, com quem tu, David, partilhaste essas brincadeiras, essas aventuras pelos corredores do hotel ...
Para elas o tempo seguiu um curso natural ... os filhos cresceram ... não vêem ... mas podem recordar "os encontros do INESC".
Eu tenho de desviar o olhar destas crianças e destes jovens que correm por aí, livremente.
Vejo-te, vejo-me.
E não sei se não me tornei um fantasma que regressou desses tempos para constatar que não estás cá. Que não voltas.
E que eu não volto.
Apesar de estar aqui.
E de recordar, agora sozinha, no quarto do hotel, que hoje é um dia especial. Triste.
Há 3 anos, a esta hora, ainda me sorriste, ainda falámos dos teus projectos culturais, ainda demos um passeio no corredor do hospital e ... sorriste-me e sorriste-me, outra vez.
Às dez da noite, perguntaste-me se queria dançar contigo e ... adormeceste num coma lento.
Quiseste dizer-me adeus, desta forma triste mas suave. De mão dada comigo.
Porque no dia 18, apenas o respirar parou.
Ainda não consigo viver sem ti, David.
Não sei fazer melhor do que vou fazendo, para viver o dia que segue ao outro.
Entre dois mundos.
27 setembro 2010
Mais um brilho no olhar do David
Mais um acordar para hoje e para os ontens.
Todos os dias têm um significado diferente porque estão associados a uma data específica daqueles dezoito meses do passado.
Cada dia desse passado ficou marcado de uma forma especial - mais triste, mais esperançoso ...
E, ao acordar, a minha primeira ideia, ainda sonolenta, foca-se no dia e no mês.
Invarialvelmente.
Involuntariamente.
O ano não interessa.
O tempo cristalizou-se.
Estávamos de regresso de mais uma consulta, em Paris, no Hospital Paul Brousse.
Vínhamos "animados". Talvez não, talvez apenas convencidos de que poderíamos viver mais algum tempo de fingimento. E que essa autorização para fingir ... era a nossa realidade.
Sem tecto, sem chão, sem muros de amparo.
Uma realidade construída de tudo o que existe de irreal, transparente.
Éramos nós os nossos próprios alicerces ... com pés de barro tão fino.
Mas as cabeças; essas sempre nas estrelas ou cansadas, encostadas no ombro mais próximo.
Penso e aconselham-me a encerrar este blog.
Não venho regularmente. Eu sei!
Mas preciso dele. É para mim.
Verto lágrimas, saudades, angústias, pensamentos às vezes terríveis ... aqui.
São daquela que se perdeu e não consegue encontrar um caminho que não seja feito de dor.
Aqui esvazio o meu sofrimento imenso.
Para que a outra, quando se fecha a porta desta casa, consiga aguentar os dias, consiga deslumbrar-se com o sorriso, a alegria, as primeiras "conversas" do neto; procurar os sorrisos tímidos do filho, olhar para o Manel e não através dele e encarar os meus pais, a minha irmã com os olhos mais ou menos secos.
Será que alguém compreende estas duas que sou eu?
Desculpem-me.
Terei de ficar por mais um bocadinho; aqui perto do David.
SONS
22 setembro 2010
Utopias
Setembro é um mês bom para visitar a Grécia.
18 setembro 2010
O teu silêncio bastava
13 setembro 2010
12 setembro 2010
Silêncio, por favor!
Dói!
Dói a saudade.
Dói não ter alcançado mais.
Dói o que doeu e não deixa de doer.
Dói o desalento em cada dia que passou.
Dói cada expectativa defraudada.
Dói tudo quanto vi que doía, veladamente, nos teus olhos.
Doem os silêncios gritantes de impotência.
Dói a carne por estender a mão e não te tocar.
Dói o cansaço a crescer a crescer.
Dói a desilusão a morrer a morrer.
Dói-me a alma.
Os olhos de não te verem.
Os ouvidos de não levarem uma palavra doce ao coração.
Dói o coração mal amado.
Dói a falta do teu abraço.
Dói tudo.
Novamente.
Todos os dias.
Dói tanto esta dor que não se vê.
Repetidamente.
Dói mais do que ontem.
Às vezes, visto o teu roupão e cheiro-te.
E guardo-o.
Ó céus, alguém imaginará mesmo quanto dói?
Vai doer e doer.
Acho que só mesmo tu me compreendeste bem, ainda antes de acontecer!
Que ia doer muito, David.
"Que pena eu tenho de ti, mamã!"
Nota: Passou mais um 11 de Setembro. É também o Dia da Nacional de Catalunha, em que nos mandaram embora do Hospital de Barcelona. Cada vez mais próximos do fim. Sempre e ainda uma luz no olhar e um sorriso meigo.
24 agosto 2010
Moledo, de passagem
22 agosto 2010
Talvez a tristeza mate ...
Todos as manhãs me levanto na firme decisão de que vou viver de frente; abrir as mãos para o que me quiserem dar.
Espero ...
Mas não tenho energia ; a resistência que me resta perde-se no esforço de fingir, fingir sempre, fingir cada vez mais que não me sinto, às vezes, tão mal amada.
E ... bastava um sorriso, um em especial, menos incomodado, menos escondido, menos acusador. Da minha fragilidade, da minha debilidade, das minhas tolices, das minha mãos inábeis, das minhas acções despropositadas, de já não ser capaz ... de ser. Ou nunca ter sido capaz.
Perdi a esperança, há muito.
Perdi bocadinhos de sonho que vou reconstruindo, reinventando ... ao acordar.
Nada é o suficiente.
Sinto-me perdida na vida.
Perdi a auto-estima.
Sinto-me dispensável, incómoda mesma.
Os silêncios instalam-se, em redor de mim.
A minha tristeza é perturbadora.
Canso-me de esperar, de ver que o sol dorme e amanhece.
Revigorado
Dorme e amanhece.
E comigo nada acontece.
Manhã após manhã, noite após noite.
Deito-me derrubada.
Sedenta de nada, de vazio, de silêncio, de olhares puros.
Da paz que dizem que vem com a morte.
Gostava de estar desse lado de lá da vida.
David, fiz mal em não ter ido contigo!
04 agosto 2010
Moledo
Ando um pouco estonteada.
Sinto-me zonza.
Em precário equilíbrio.
Trago um quebranto antigo no arrastar das pernas.
Um torpor no lugar do coração.
Um cansaço lento no descerrar das pálpebras junto à brisa do mar.
Moledo, Barcelona!
Locais unidos por águas do mar.
Pelas lágrimas escondidas no seu contemplar.
...
Ventos de Barcelona, sinto-os, próximos; zumbem perto dos meus ouvidos.
O mesmo mês.
É o mesmo calor; aqui, menos abrasador.
Mais sufocante na saudade.
Mais arrasador no desgaste das últimas forças.
Inadiável, no ter de dizer adeus.
...
Porque … é sempre de saudade que se trata.
Falta-me a força que, sempre, tive para me rodear de entusiasmos e se me esmoreceu nas veias.
Em que poço fundo se perdeu a alegria que trazia guardada dentro do olhar?
Saudade das minhas flores, dos meus arbustos? Acho que já não; não aquela urgência imperiosa de me debruçar … cansaram-se de me esperar.
Saudades de mim?
Claro que são. São saudades de mim ... Também se trata de mim ...
Mas são muitas, sempre muitas e cada vez mais indomáveis ... as saudades do tempo em que estavas comigo.
Que força impensável nos estilhaçou?
O convidado de hoje do jazz faz tarde chama-se Mário Delgado é guitarrista e é português.
Mário nasceu em 1962 e iniciou os seus estudos na escola do Hot Club de Portugal e teve como professores o contrabaixista José Eduardo e também com David Gausden.
Delgado estudou também guitarra clássica com José Peixoto e, paralelamente, fez parte de grupos com Carlos Martins, Maria João e Carlos Barretto, entre outros...
É o Mário Delgado quem toca no novo disco da Maria João e do Mário Laginha que se chama “Undercovers”.
Mário participou em seminários com: Bill Frisell, Joe Lovano, Gary Burton e muitos outros músicos.
Agora vamos ouvir um dos temas do seu disco “Filactera” e o tema chama-se “...”
Até logo...
26 julho 2010
Desaniversário
22 julho 2010
A seguir ...
Olá, caros ouvintes!
Com o inicio desta semana, terminou o ciclo de instrumentos que tem vindo a decorrer há cerca de dois meses.
A partir de hoje, vou falar aleatoriamente sobre músicos de jazz de qualquer parte do mundo. Alguns destes músicos nunca passaram pelo jazz faz tarde, outros já passaram mas são tão bons que terão direito a passar outra vez por aqui.
Outros ainda ...não são propriamente músicos típicos do jazz nem perseguem esse estilo ... mas sente-se a influência na sua música e claro são óptimos artistas.
Hoje vamos ouvir um senhor chamado Gato Barbieri que é um saxofonista argentino que toca como se o seu sax estivesse a arder. Se quiserem saber mais sobre o Gato Barbieri podem escrever para o email jazzfaztarde@hotmail.com
Até logo...
21 julho 2010
Ponto final?
Após o momento de viragem que o Bebop causou no jazz ,veio outro estilo chamado Cool.
Esta foi mais uma maneira de tocar, uma sonoridade, um raciocínio do que propriamente um estilo ou um movimento cultural.
Nesta época que abrange os anos 40 e 50, surgiram músicos com discursos musicais mais descontraídos, tocando sonoridades lisas, sem vibrato. Tudo muito, cool...
Deixo-vos agora com o... Jazz Faz Tarde
Até logo...
David Sobral
13 julho 2010
Outra e outra vez!
Aqui.
Talvez só aqui ... me seja permitido sentir que a morte do meu filho se repete ...
Todos os dias.
E dizê-lo, ... porque é verdade.
Porque a recordo, todos os dias.
Dói ... sobretudo à noite.
E não me deixa dormir.
Ando exausta de sofrer.
Cansada de fingir que "dei a volta por cima" ...
Não dei ... sei que não darei!
Resta-me continuar, com o coração afogado na dor das saudades
Sem que os olhos sejam o seu reflexo.
Porque me dizem "Há muita gente que precisa de ti!"
Mesmo assim, só pela metade de mim?
Talvez ...
Quero acreditar que sim ...
Só por isso resisto!
Olá caros ouvintes, hoje o convidado do jazz faz tarde é o pianista louco Cecil Taylor. Este senhor começou a sua carreira nos já longínquos anos 50 e continua a tocar ainda hoje.
Este senhor é um louco do free jazz e cedo deixou de tocar clássicos e jazz normal. As suas actuações são fortes e bastante intensas assim como a sua música e o seu estilo de tocar piano. O seu som é forte e a sua música é algo atonal.
Escusado será dizer que a música de Cecil Taylor não é para todos mas também tem o seu culto e os seus seguidores, como todos os outros artistas.
Vamos ouvir o senhor Cecil Taylor e até logo que Jazz Faz Tarde ...
David Sobral
30 junho 2010
Sequências
Caros ouvintes, o programa de hoje é dedicado a um jovem compositor Nova Iorquino chamado Jason Lindner.
Este senhor ganhou fama, no final dos anos 90, devido à sua bestial Big Band que tocava todas as segundas-feiras à noite, no famoso clube de Nova Iorque chamado “Smalls”.
Lindner tocou com muita gente e fez parte da geração de outros músicos novos já mencionados em programas anteriores: Kurt Rosenwinkel, Avishai Cohen e Diego Urcola.
David Sobral