16 outubro 2010

Que lugares serão reais


Luso. Estou no luso, David.
Num daqueles encontros "familiares" do INESC. Já não se fazem Há muito tempo.
Hoje regressei. Eu e o Manel, com uma sombra pesada no peito. Com uma saudade a cobrir-nos os ombros.
Viemos os dois, só. Antes íamos os quatro, quando tu e o teu irmão eram jovens, pequenos.
Gostavam muito ... um hotel, por vossa conta, descontracção total na segurança do recinto, jogos, piscina, brincadeiras nos quartos dos filhos dos outros "inesquianos" mais ou menos da vossa idade. Horas e horas desaparecidos, num recanto qualquer.
Nunca deixaram de vir com o Manel e comigo aos encontros que se organizaram.

Depois, também o tempo trouxe alterações, mudanças no INESC. Vocês cresceram.
Mas hoje, voltei.
Um mar de tempo tornou-nos grisalhos os cabelos.
Enquanto o Manel foi trabalhar ... passeei por aí; pelos mesmos (restaurados) recantos do hotel ...
E vi os os mesmos filhos da vossa idade, e vi-os passar com as toalhas debaixo dos braços em direcção à piscina, e senti-lhes o suor a cheiro juvenil de quem brincou e saltou muito com outros por cima das camas do quarto onde se refugiaram ...
Vi tudo, recordei os banhos rápidos para aparecerem "decentes", à hora de jantar.

Vim com amigas que também trouxeram filhos, com quem tu, David, partilhaste essas brincadeiras, essas aventuras pelos corredores do hotel ...
Para elas o tempo seguiu um curso natural ... os filhos cresceram ... não vêem ... mas podem recordar "os encontros do INESC".

Eu tenho de desviar o olhar destas crianças e destes jovens que correm por aí, livremente.
Vejo-te, vejo-me.
E não sei se não me tornei um fantasma que regressou desses tempos para constatar que não estás cá. Que não voltas.
E que eu não volto.
Apesar de estar aqui.
E de recordar, agora sozinha, no quarto do hotel, que hoje é um dia especial. Triste.

Há 3 anos, a esta hora, ainda me sorriste, ainda falámos dos teus projectos culturais, ainda demos um passeio no corredor do hospital e ... sorriste-me e sorriste-me, outra vez.
Às dez da noite, perguntaste-me se queria dançar contigo e ... adormeceste num coma lento.
Quiseste dizer-me adeus, desta forma triste mas suave. De mão dada comigo.

Porque no dia 18, apenas o respirar parou.

Ainda não consigo viver sem ti, David.
Não sei fazer melhor do que vou fazendo, para viver o dia que segue ao outro.
Entre dois mundos.

1 comentário:

Anónimo disse...

Isabel,

Um beijo,hoje, para não se sentir tão só amanhã.



Filomena