21 abril 2009

Novamente Abril



Ando ausente.
Mas presente, nessa ausência.
É, novamente, Abril.
Dos cravos vermelhos, do aniversário do David, ...

Às vezes, já não me basta abrir, só por um bocadinho, esta caixinha onde estão guardadas músicas, textos, projectos, desejos... que o David sonhou.
E quando tudo isto se esgotar, onde vou procurar alento?
Para que o meu coração não doa tanto.
A que mais recorrer?
Sei ou sinto (não sei) ... que, ainda, não interiorizei toda a realidade; a ausência definitiva.
Vivo entre lapsos de tempo que me ajudam a parecer que sou eu, que estou aqui, que voltei.
Sei que sou eu agora, aqui; mas, agora, já sei que sou a outra, que não está aqui.
Num momento, é o presente ... dentro em pouco, por uma fresta de tempo por onde me escapo, é o passado e eu estou lá; já não aqui. No entanto, estou aqui.
E assim, alternam os cenários e as personagens que os povoam.
Agora eu sou avó; dentro em pouco, percorro as ruelas dum mercado colorido em Barcelona.
E, logo, salto e vejo 3 vultos sentados no areal. Observam o mar. O David despede-se dele; os outros vultos apoiam-no.
Regresso à sala de aula, para, em breve, nos ver, lé em cima, dentro daquele avião que rasga o céu...
E num fim de tarde, sentada numa esplanada em Madrid e bebemos viño de veraño - eu e o David.
E o Miguel tem um sorriso que contagia e o meu filho pai faz de avião, com o filho nos braços.
Mas o David ... onde está?
Em Abril, um concerto, a Casa da Música, cravos vermelhos, a Grândola, o "Ser solidário assim pr’além da vida...", uma mão estendida por detrás do acento, guitarras ao fundo da sala, um piscar d'olhos irónico e fugidio..., a enfremaria 24 e um convite para dançar.
Sei que é assim que vou viver; neste andar cá e lá.
É como quero viver, apesar de tudo e da dor sempre latente.
O tempo que me couber...
Com uma mão cerrada; onde guardo o que deste filho me ficou.
Como a música, sempre a música.





Brad Mehldau

O pianista de hoje é a nova grande referência do piano-jazz moderno.


Perguntem a qualquer jovem aspirante a pianista de jazz quem é o pianista do momento e ele dirá que é Brad Mehldau.


Brad é mais um dos jovens pianistas que adoptou o pianista Bill Evans como influência e modelo a seguir.


Brad estou na New School of Music em Nova Iorque, escola que já muitos músicos portugueses frequentaram.


Este senhor já veio a Portugal mais do que uma vez e é sempre recebido por uma sala cheia de apreciadores.


Brad, apesar de novo, já tocou e gravou discos com músicos bastante mais velhos e experientes, como por exemplo o já falecido baterista Billy Higgins.


Deixo-vos com Brad Mehldau e o seu piano. Ouçam e sintam a paixão com que este senhor toca.


Até logo que... jazz faz tarde


David Sobral



Brad Mehldau

2 comentários:

manuela baptista disse...

Em Abril

No sotão de uma casa
que às vezes não é casa mas um barco
abri devagar
a tampa de uma mala
que às vezes é de porão outras não

de lá tiro a vida
recontada
magoada
e penso sempre
agora é que cheguei
ao fundo bem profundo
e não há mais nada

puro engano
porque do nada
cresce sempre a seda pura
dos pensamentos
enfeitados de vermelho
Abril em cada música
em cada madrugada
bem dançada

Manuela Baptista
Estoril, 21 de Abril de 2009

jaime latino ferreira disse...

CINQUENTA MANEIRAS


Teria cinquenta maneiras
De deixar o meu Amor
Mas não me perco nas eiras
Por amá-lo como Flor

Tenho a liberdade ao dispôr
De me perder pelas feiras
Mas perderia a cor
Solidária e sem fronteiras

Ao saber o que tu queiras
Perco-me no estertor
Como a água das torneiras

Deixo de sentir a dor
Ergo-me como bandeiras
Que sei bem onde as vou por

( Ao som de Brad Mehldau, 50 Ways to Leave Your Lover )


Jaime Latino Ferreira
Estoril, 21 de Abril de 2009