Fala-se de dias e dias que escorrem ... sem um filho que partiu! Fala-se à toa ... e escreve-se, sempre, para silenciar a saudade ou as lágrimas. À toa ...
29 abril 2009
Apesar de
Apesar do tempo que correu.
Apesar das lágrimas que vou chorando.
Apesar de ir vivendo a vida possível.
Apesar das cartas que escrevi.
Apesar de uns olhitos negros me sorrirem.
Apesar de eu sorrir a esses olhos tão puros.
Apesar das consultas...
Apesar dos amigos.
Apesar de os teus sons inundarem os meus dias.
Apesar de me despedir, todos os dias.
Apesar deste blog e dos amigos que me ouvem e lêem e respondem.
Apesar do livro que estou a terminar.
Apesar de tudo isso...
Deito-me com o coração cansado de bater.
Deito-me com os olhos espantados de não te verem.
Deito-me ... com medo.
E acordo para novo bater de coração acelerado.
E acordo para a angústia, sempre renovada, de que não te vais curar.
Acordo para o mesmo medo...
Ou será sempre o mesmo espanto de não te ver?
Espanto, medo, cansaço, angústia.
Eis a matéria de que se fazem os meus dias...
27 abril 2009
31 anos
Há 31 anos, numa 5ª feira de sol, pelas 16h 45m, nasceu o David, um filho desejado.
Dei-lhe a vida.
Acompanhei-o, dia a dia, hora a hora, até à morte, naquele quarto banhado de sol.
Assisti incrédula à tragédia que mo tirou.
Vivo, agora, dia a dia, hora a hora, dentro desta imensa e dolorosa sensação de impotência.
Nada pude...
25 abril 2009
Abril 74
No 25 de Abril de 1974, tinha 18 anos.
Um pouco fútil, penso eu, olhando, daqui, a Isabel desse tempo.
Brincalhona, com muitos amigos e amigos dos meus jantares em casa de outros amigos, boa aluna no curso de Filologia Românica ... estabelecida com namorado ... coisas vulgares.
Era uma rapariguinha pouco informada, do ponto de vista político.
Aqui e ali, participava em algumas conversas mais secretas; já assistira à entrada da polícia na nossa faculdade e tentara fazer frente; ouvia canções do Zeca... pouco mais.
Mas acordei.
E foi bonito esse acordar; estava latente na minha maneira de ser, nos meus genes...
Acordei para Abril; para necessidade da luta contra a injustiça; para urgência da solidariedade; para a defesa sem tréguas dos direitos humanos.
Acordei.
Não voltei a adormecer.
Tinha 18 anos.
Foi bom ter 18 anos, no 25 de Abril.
Renasci diferente e melhor.
Não voltei a adormecer.
Tinha 18 anos.
Foi bom ter 18 anos, no 25 de Abril.
Renasci diferente e melhor.
Acho que seria,
hoje,
uma cinquentona balofa e estúpida,
a gostar só de música pimba,
a ir à revista, de toilette e sapatos de tacão,
a passar horas a tratar das unhas na cabeleireira,
a ler a Holla, religiosamente, todas as semanas,
a seguir todas as telenovelas,
a ler apenas Paulo Coelho e
Margarida Rebelo Pinto
a ouvir a TVI, de manhã à noite
e a pensar sempre em tom rosa bebé
.... se não tivesse 18 anos no 25 de Abril!
Mas acordei.
Acordei para um sonho que é ter uma filosofia de vida que me ponha de bem comigo e com os meus ideais de justiça, liberdade e fraternidade.hoje,
uma cinquentona balofa e estúpida,
a gostar só de música pimba,
a ir à revista, de toilette e sapatos de tacão,
a passar horas a tratar das unhas na cabeleireira,
a ler a Holla, religiosamente, todas as semanas,
a seguir todas as telenovelas,
a ler apenas Paulo Coelho e
Margarida Rebelo Pinto
a ouvir a TVI, de manhã à noite
e a pensar sempre em tom rosa bebé
.... se não tivesse 18 anos no 25 de Abril!
Mas acordei.
Posso não ser activista ou militante de partidos políticos, mas vivo e tento actuar em conformidade com esse SONHO.
Pode a minha vida ser a tragédia em que se tornou,
com a morte do David, nascido em Abril.
Esse sonho antigo chama-se, ainda assim, Abril.
Com um sorriso carinhoso e cansado ...
mas sério!
com a morte do David, nascido em Abril.
Esse sonho antigo chama-se, ainda assim, Abril.
Com um sorriso carinhoso e cansado ...
mas sério!
Bandiera rossa Hippo by fabiolino
My life is OK!
Durante quase todo o período da doença, o David acordou com uma música que era quase como um ritual de entrada no novo dia. Sempre associei essa começo do dia com o do actor principal do filme All That Jazz.
Eu própria já esperava essa canção, quando acordava.
Depois da morte do David, ouvi-a vezes sem conta ... em casa, no carro. Sempre quis saber quem seria o grupo ou o cantor... Não estava anotado no cd; eram lists que ele fazia, para ir ouvindo - músicas muitos diversificadas, numa mesma playlist.
Ouvi imensos CDs dos de cá de casa, à procura desta canção. Procurei no Google, perguntei nas lojas. Tudo infrutífero. Eu só conhecia o refrão - My life is OK!
My life is OK! - para quem se trata de um cancro... É preciso força.
Mas o David era mesmo assim. Imprevisível. Capaz de coisas espantosas; ele que sempre fora um rapazinho emotivo e sensível.
Esta semana, com a ajuda do Manel, voltei a tentar.
E achei.
Talvez me digam "É tão onhecida! Podias ter perguntado."
E cheguei a perguntar .... e voltei a perguntar se conheciam ... mas não sabiam ou não estavam a ver.... e não havia tempo para pesquisar.
Mas o Manel, quando decide ajudar, é determinado.
E, agora, posso finalmente, seguir, com a letra, esta canção que fez parte do meu dia a dia, durante 18 meses de luta.
Sempre um sorriso, para começar.
"Vamos à luta, mamã!"
Era assim o David!
The Bananaqueen
Happy happy happy happy
Man i drove down to Ghent in my underwear
i went lookin for some new funny clothes to wear
i was feelin strange
i'd say a little deranged
So i walk on in this funky place
just to see what kinda groove that i could trace
i saw her face
and her elegant taste
dancin to a disco was the bananaqueen
thourougly surrounded by her royal bananakin
i was amazed
she put a smile on my face
she said:
hey man
you shouldn't be worried 'bout the good or the bad
or all them stories
just a slowly point your life
in the right direction
and live it up to the max of true satisfaction
Hey
My life is okay
maybe she was french or african or german
but it didn't really matter to the people that were turning
to the left
to the right
the way they moved was out of sight
man i had to get busy giving everything
everything
oooooooooooh man just give me everything EVERYTHING
She had a afroceltic fire and a philosophic trill
she had the muscles of a giant with a delicate skill
she had the softness of a mama and the kindness of a grannyshe was yelling like James Brown Joyce Donkey Daddy
Now you may think the queen was some doctrinial fool
or like a monkey doing tricks around a touristic crew
i'd say a this here character was nothing like that
i think the forces of this planet
all were bound in this cat
I said:
Hey
My life is okay
Verso e reverso
Sobrepoem-se dois lados de mim.
Deste lado de mim, dizem que estou eu.
Do outro lado, conta-se uma história de alguém que foi e não voltou.
E de alguém que ficou, tendo partido também.
É também desse lado que estou, quando dizem que os meus olhos ficam parados...
Saio de mim, para regressar.
A este lado de mim ou ao outro de quem foi e não voltou?
A esta que partilha palavras à toa ou à outra que esconde silêncios despovoados?
Silêncios tão longos, tão adormecidos... embalados, noite a noite, até ao alvorecer.
Silêncios tão resguardados, por mim...
Que só o falar constante pode não os perturbar.
Só cada batida do coração é permitida.
E o som silencioso da harmonia do bater do mar.
Isto... do outro lado de mim.
Onde estou...
24 abril 2009
Apesar da luminosidade dos dias, sinto que tacteio no escuro do meu percurso.
Percurso que não traço; percorro-o, apenas, à medida que surge espaço para dar mais um passo.
Procuro a serenidade amargurada de não fazer projectos,
de nada buscar com ansiedade;
sem o receio de que nada se concretize.
É a minha forma de fugir dos medos;
de me cobrir de escudos que me protejam.
Para viver da forma possível.
Neste tempo pesado de tanto Abril;
Abril do nascimento do David;
Abril do Zeca na Casa da Música,
Abril dos cravos junto do David;
Abril que não será dos 31 anos do David;
um Abril a 27 ... vazio.
Demasiado Abril.
Demasiados cravos vermelhos da cor do sangue;
de sabor amargo de saudade.
Quando estou só reconheço
Se por momentos me esqueço
Que existo entre outros que são
Como eu sós, salvo que estão
Alheados desde o começo.
E se sinto quanto estou
Verdadeiramente só,
Sinto-me livre mas triste.
Vou livre para onde vou,
Mas onde vou nada existe.
Creio contudo que a vida
Devidamente entendida
É toda assim, toda assim.
Por isso passo por mim
Como por cousa esquecida.
Fernando Pessoa
Percurso que não traço; percorro-o, apenas, à medida que surge espaço para dar mais um passo.
Procuro a serenidade amargurada de não fazer projectos,
de nada buscar com ansiedade;
sem o receio de que nada se concretize.
É a minha forma de fugir dos medos;
de me cobrir de escudos que me protejam.
Para viver da forma possível.
Neste tempo pesado de tanto Abril;
Abril do nascimento do David;
Abril do Zeca na Casa da Música,
Abril dos cravos junto do David;
Abril que não será dos 31 anos do David;
um Abril a 27 ... vazio.
Demasiado Abril.
Demasiados cravos vermelhos da cor do sangue;
de sabor amargo de saudade.
Quando estou só reconheço
Se por momentos me esqueço
Que existo entre outros que são
Como eu sós, salvo que estão
Alheados desde o começo.
E se sinto quanto estou
Verdadeiramente só,
Sinto-me livre mas triste.
Vou livre para onde vou,
Mas onde vou nada existe.
Creio contudo que a vida
Devidamente entendida
É toda assim, toda assim.
Por isso passo por mim
Como por cousa esquecida.
Fernando Pessoa
21 abril 2009
Sons de longe
Hoje, fica uma canção que, nas frestas do tempo deste dia, cantarolei baixinho.
O David tinha uma predilecção especial pelo J. Mário Branco.
Ser Solidário
Ser solidário assim pr’além da vida
Por dentro da distância percorrida
Fazer de cada perda uma raiz
E improvavelmente ser feliz
De como aqui chegar não é mister
Contar o que já sabe quem souber
O estrume em que germina a ilusão
Fecundará por certo esta canção
Ser solidário assim tão longe e perto
No coração de mim por mim aberto
Amando a inquietação que permanece
Pr’além da inquietação que me apetece
De como aqui chegar nada direi
Senão que tu já sentes o que eu sei
Apenas o momento do teu sonho
No amor intemporal que nos proponho
Ser solidário sim, por sobre a morte
Que depois dela só o tempo é forte
E a morte nunca o tempo a redime
Mas sim o amor dos homens que se exprime
De como aqui chegar não vale a pena
Já que a moral da história é tão pequena
Que nunca por vingança eu te daria
No ventre das canções sabedoria
Ser Solidário
Por dentro da distância percorrida
Fazer de cada perda uma raiz
E improvavelmente ser feliz
De como aqui chegar não é mister
Contar o que já sabe quem souber
O estrume em que germina a ilusão
Fecundará por certo esta canção
Ser solidário assim tão longe e perto
No coração de mim por mim aberto
Amando a inquietação que permanece
Pr’além da inquietação que me apetece
De como aqui chegar nada direi
Senão que tu já sentes o que eu sei
Apenas o momento do teu sonho
No amor intemporal que nos proponho
Ser solidário sim, por sobre a morte
Que depois dela só o tempo é forte
E a morte nunca o tempo a redime
Mas sim o amor dos homens que se exprime
De como aqui chegar não vale a pena
Já que a moral da história é tão pequena
Que nunca por vingança eu te daria
No ventre das canções sabedoria
Ser Solidário
Novamente Abril
Ando ausente.
Mas presente, nessa ausência.
É, novamente, Abril.
Dos cravos vermelhos, do aniversário do David, ...
Às vezes, já não me basta abrir, só por um bocadinho, esta caixinha onde estão guardadas músicas, textos, projectos, desejos... que o David sonhou.
E quando tudo isto se esgotar, onde vou procurar alento?
Para que o meu coração não doa tanto.
A que mais recorrer?
Sei ou sinto (não sei) ... que, ainda, não interiorizei toda a realidade; a ausência definitiva.
Vivo entre lapsos de tempo que me ajudam a parecer que sou eu, que estou aqui, que voltei.
Sei que sou eu agora, aqui; mas, agora, já sei que sou a outra, que não está aqui.
Num momento, é o presente ... dentro em pouco, por uma fresta de tempo por onde me escapo, é o passado e eu estou lá; já não aqui. No entanto, estou aqui.
E assim, alternam os cenários e as personagens que os povoam.
Agora eu sou avó; dentro em pouco, percorro as ruelas dum mercado colorido em Barcelona.
E, logo, salto e vejo 3 vultos sentados no areal. Observam o mar. O David despede-se dele; os outros vultos apoiam-no.
Regresso à sala de aula, para, em breve, nos ver, lé em cima, dentro daquele avião que rasga o céu...
E num fim de tarde, sentada numa esplanada em Madrid e bebemos viño de veraño - eu e o David.
E o Miguel tem um sorriso que contagia e o meu filho pai faz de avião, com o filho nos braços.
Mas o David ... onde está?
Em Abril, um concerto, a Casa da Música, cravos vermelhos, a Grândola, o "Ser solidário assim pr’além da vida...", uma mão estendida por detrás do acento, guitarras ao fundo da sala, um piscar d'olhos irónico e fugidio..., a enfremaria 24 e um convite para dançar.
Sei que é assim que vou viver; neste andar cá e lá.
É como quero viver, apesar de tudo e da dor sempre latente.
O tempo que me couber...
Com uma mão cerrada; onde guardo o que deste filho me ficou.
Como a música, sempre a música.
Brad Mehldau
O pianista de hoje é a nova grande referência do piano-jazz moderno.
Perguntem a qualquer jovem aspirante a pianista de jazz quem é o pianista do momento e ele dirá que é Brad Mehldau.
Brad é mais um dos jovens pianistas que adoptou o pianista Bill Evans como influência e modelo a seguir.
Brad estou na New School of Music em Nova Iorque, escola que já muitos músicos portugueses frequentaram.
Este senhor já veio a Portugal mais do que uma vez e é sempre recebido por uma sala cheia de apreciadores.
Brad, apesar de novo, já tocou e gravou discos com músicos bastante mais velhos e experientes, como por exemplo o já falecido baterista Billy Higgins.
Deixo-vos com Brad Mehldau e o seu piano. Ouçam e sintam a paixão com que este senhor toca.
Até logo que... jazz faz tarde
David Sobral
Brad Mehldau
19 abril 2009
De longe a longe
Quem pode ser completamente feliz?
Talvez bastem alguns momentos de felicidade, de longe a longe, e não pedir demais.
Talvez se deva aprender a dizer "Estou feliz!", em vez de assumir "Sou feliz!"
Não, eu não sou feliz.
Nem procuro a felicidade.
Mas encontro, aqui e ali, momentos em que quase me sinto feliz.
São aquelas frestas de tempo, em que o sorriso sereno do David olha para mim e me diz "Anda lá, mamã, vai à luta!" ou leio alguns dos textos que tenho, por aqui, guardados.
E sorrio, ... porque ele era assim, ingénuo e bem-humorado mas perspicaz.
Como neste, que acabei de ler...pela décima vez... Era muito jovem, ainda. Talvez 16, 17 anos.
O GajaShopping
Actualmente existem vários estilos de vida que ganharam raízes na sociedade. Um desses estilos que é talvez dos mais recentes, é, sem dúvida, o estilo shopping.
As pessoas que praticam este estilo não são nem melhores nem piores do que as outras, são pessoas normalíssimas. O shopping é a instituição social mais democrática que existe, dentro de certos limites nada rígidos. Sabem, por exemplo aqueles seguranças que têm tudo menos ar de seguranças?
É mesmo isso, eles não estão lá para garantir a nossa segurança e o nosso bem-estar. Eles estão lá para avaliar as curvas e medidas de quem entra nos shoppings. Só assim se explica a exagerada quantidade de meninas wonderbra e rabinho-de-bebé que vemos, a toda a hora. Já houve casos em que espiões de agências de modelos se infiltraram em equipas de segurança.
Também só assim se explica o famoso slogan apelativo “Menina, a próxima supermodel podes ser tu!!".
Dentro do shopping, todas as pessoas são iguais ou, pelo menos, todos os jovens são iguais. Existem os empregados de fast-food e os fortes candidatos a empregados de fast-food. Quando um jovem começa a ir muitas vezes a um determinado fast-food, é porque está a pensar em ir para lá trabalhar.
É mais uma presa do famoso slogan sócio-político “Se és jovem, dinâmico e alegre, junta-te a nós".
Como em tudo, nos shoppings também há minorias. Neste caso, são os casais de namorados esfomeados. Como se não tivessem mais nenhum sítio onde estar, esta espécie não tem problemas em proceder às suas transfusões de saliva explícitas em qualquer ponto do shopping, seja nas escadas rolantes, no elevador, na Pizza Hut e, em casos extremos, no Toys’r’us.
Os shoppings não instituíram apenas um estilo de vida; eles reforçaram a influência causada pelas lojas, mais pormenorizadamente pelos saldos. Há muito para dizer acerca dos saldos. A coisa mais importante é que é uma época de grande agitação social, principalmente da classe feminina.
As mulheres entram em grande actividade, mostrando-se mesmo extremamente dinâmicas. Tanto de dia como de noite, elas mexem-se mais. Enquanto os animais são despertados para o acasalamento pelo cio, os humanos são despertados pela época de saldos.
Mas nem a todas as mulheres, esta época corre assim tão bem. Como este fenómeno social coincide com o início da 2ª Mão do Campeonato de Futebol, as mulheres que estão casadas com adeptos do Sporting, têm a sua situação ligeiramente dificultada.
As pessoas que vivem o estilo de vida de shopping podem, se o desejarem, ter uma semana preenchida com actividades de shopping. De manhã, quando não se tem aulas ou trabalho, é um prazer ir lá comprar o jornal. A esta hora, só encontramos os famosos jovens que, finalmente, decidiram a aceitar o cargo de empregado de fast-food e, como o fazem pela calada, o shopping está praticamente vazio.
Ao almoço, toda a população shopping se encontra lá; até mesmo a famosa comunidade de pessoas-de-óculos-de-sol. Estas pessoas usam os óculos não para dar estilo, como toda a gente pensa, mas para se camuflarem, porque são, nada mais nada menos do que os ex-empregados de fast-food que, finalmente, se afirmaram na sociedade.
Ao jantar, encontramos uma população mais velha que vem, inocentemente, jantar e apanhar um pouco de ar puro. Por vezes, ao fim-de-semana, há elementos desta espécie que aparecem à noitinha para comprar um sundae de chocolate para as suas queridas esposas porque lhes apetece uma-coisinha-doce-antes-de-ir-para-a-cama. Este comportamento é muito famoso; acontece sempre depois da época de saldos.
O shopping é o palco daqueles que nunca puderam pisar um palco verdadeiro. Quando uma figura pública famosa aparece muitas vezes em shoppings, é caso para duvidar. É um estilo de vida em progressão ascendente; daqui a alguns anos ver-se-ão shopping-girls e shopping-boys em todos os agregados familiares. Daqui a algum tempo, tal como no caso das rotundas, existirão também o Mondim de BastoShopping, o Póvoa do LanhosoShopping, o Via Alcanena e muitos outros… Não é fácil resistir às tentações modernas.
E não somos menos do que os outros!!
A rapariguinha do shopping
18 abril 2009
18...18...18
Passou mais um dia 18 - dia em que morreste.
Passaram 18 meses, desde 18 de Outubro.
Depois dos 18 meses, em que vivemos, contando cada fracção de tempo.
Saboreando cada pedacinho bom,
querendo sempre acreditar que talvez pudesse ser
para sempre.
Virando, teimosamente, a cara,
apesar das lágrimas e do sufoco e da raiva, a cada recaída...
Não podíamos parar.
Nunca parámos.
Nunca paraste.
E a percepção do tempo perdeu-se.
Eu girava à tua volta ... que mais podia fazer?.
Vivia no centro do furacão, sem me aperceber do que se passava fora dele.
Não dei conta.
Sobrou o depois e, agora, o tempo é sempre tempo sem ti.
Amanheço e adormeço num tempo
que sinto sempre de falta de alguma coisa em mim.
Conto os dias.
Conto-os, apenas porque sim...
Sem qualquer outro motivo.
Apenas, porque sim.
Não houve desdedidas.
Não deixei que houvesse.
Ninguém ia partir ou viajar...
Mas, agora, despeço-me de ti,
a cada dia que passa.
Passaram 18 meses, desde 18 de Outubro.
Depois dos 18 meses, em que vivemos, contando cada fracção de tempo.
Saboreando cada pedacinho bom,
querendo sempre acreditar que talvez pudesse ser
para sempre.
Virando, teimosamente, a cara,
apesar das lágrimas e do sufoco e da raiva, a cada recaída...
Não podíamos parar.
Nunca parámos.
Nunca paraste.
E a percepção do tempo perdeu-se.
Eu girava à tua volta ... que mais podia fazer?.
Vivia no centro do furacão, sem me aperceber do que se passava fora dele.
Não dei conta.
Sobrou o depois e, agora, o tempo é sempre tempo sem ti.
Amanheço e adormeço num tempo
que sinto sempre de falta de alguma coisa em mim.
Conto os dias.
Conto-os, apenas porque sim...
Sem qualquer outro motivo.
Apenas, porque sim.
Não houve desdedidas.
Não deixei que houvesse.
Ninguém ia partir ou viajar...
Mas, agora, despeço-me de ti,
a cada dia que passa.
Na luz das estrelas
13 abril 2009
Música, sempre.
Casal Shuman- Casa das Artes
Estúdio de Ópera do Porto
Estúdio de Ópera do Porto
O meu David anda, realmente, por aí...
Na música, no sorriso dum bebé, nas saudades dos amigos, nas eólicas no cimo do monte, na iluminação da minha casa de Moledo. Nas tonalidades do pôr-do-sol.
Mas, sobretudo, na música. Em todo o tipo de música.
Mais no jazz, sempre.
Mas também naquela que o Jaime prefere, a clássica, como a de Jordi Saval (a propósito de la "voix humaine").
O David tinha muitos projectos musicais; um deles, o mais desejado, passava pela iluminação de uma ópera.
Chegou a ter agendado um encontro para concretizar um projecto com um maestro conhecido.
Não desistiu; apenas não foi a tempo, no seu curto tempo de percurso.
O David trabalhou, durante umas temporadas, com o Estúdio de Ópera, na Casa das Artes, no Porto.
Encenou e iluminou uma peça de Shuman; uma das fotos desse espectáculo saiu numa revista norte americana, reconhecida na área da iluminação cénica.
Chorou, emocionado, quando me mostrou a página e o nome dele na revista.
Gostava da luz ... porque lhe permitia estar sempre pertinho da música.
De música boa.
Aproveito as coincidências do Jaime e deixo mais um programa.
Do David, sempre...
Eliane Elias
Assim como não há só norte-americanos no mundo do jazz, também não há só homens.
Hoje, o programa é sobre uma óptima pianista que se chama Eliane Elias. Esta senhora é brasileira.
Eliane Elias herdou o seu talento da sua mãe Lucia, uma pianista de música clássica que, por vezes, também tocava jazz.
Também Eliane mistura a clássica com o jazz, tendo chegado a ser uma das únicas pessoas no mundo da música a lançar álbuns de música clássica e de jazz, em simultâneo.
A sua vida profissional deu um grande salto quando, depois de se mudar para Nova Iorque, se juntou ao famoso grupo Steps Ahead, onde tocavam músicos como o saxofonista Michael Brecker e o baterista Peter Erskine.
Eliane Elias tocou muito e com gente muito boa. Chegou até ao ponto de ser a directora musical da banda de Gilberto Gil.
Hoje vamos ouvi-la tocar um clássico de Baden Powell que se chama “Samba Triste”
Ouçam que jazz faz tarde...
David Sobral
Eliane Elias - Samba Triste
12 abril 2009
Um telefonema
As tournées, os espectáculos, os projectos das artes de palco são mais frequentes, a partir da Primavera.
Com o bom tempo, a pessoas saem mais de casa.
Andam a música e o teatro no ar.
É assim que entendo os telefonemas que, ainda, recebo, como hoje, e, em que do lado de lá, me perguntam "É da casa do David Sobral?"
E eu digo que sim e pergunto quem é, explico o que se passou, que sim, que foi doença; explicam-me donde conheciam o David, que lamentam...pedem desculpa e digo que não tem nada que se desculpar... Mesmo de nada.
Desculpar o quê?
O haver, ainda, quem conte com o David para partilhar um projecto, uma ideia?
O haver, ainda, por aí, gente, conhecidos do David para quem ele, afinal, tem estado vivo?
Até agora.
É tão frágil esta separação entre o estar e logo não estar.
É como se, por um bocadinho, ... uma breve e repousante sensação de estar.
Ilusão.
Logo a dor, o escuro.
A música permanece.
Bebop
Depois do Swing, na história do jazz, apareceu o Bebop o estilo que marcou o princípio do jazz moderno.
A época áurea deste estilo vai de 1943 até ao ano de 1950. Ainda neste tempo, os negros sofriam com os ataques racistas da população branca.
Com o bebop dá-se um regresso brutal ao expressionismo mais desenfreado, o jazz torna-se ainda mais aberto, espontâneo e livre.
Nele se encontra um desejo bastante barroco de destruição das formas gerais, aliado a uma sincera preocupação em manter o requinte formal e a qualidade sonora.
O termo bebop provém das onomatopeias a que os músicos recorriam para estudar e perceber os seus temas e os seus solos.
Os músicos mais sonantes do bebop foram os seguintes: o pianista e compositor Thelonious Monk, quase inventor do bebop; o saxofonista Charlie Parker que é o pai de todos os saxofonistas modernos e o baterista Max Roach que ainda é vivo.
Estes são alguns, poucos, dos muitos músicos que existiram e existem ainda e que fundaram este importante estilo musical que fez com que o jazz se tornasse ainda mais conhecido no mundo.
Deixo-vos agora com o saxofonista Charlie Parker, até logo que...
Jazz Faz Tarde
Charlie "bird" Parker
Thelonious Monk
Max Roach
07 abril 2009
caminho
"Tudo se comprime num verso obscuro e intocável.
Julgo perder-me num meandro de luzes e sombras, de estrelas e pântanos, profetas e deuses.
Julgo perder-me num meandro de luzes e sombras, de estrelas e pântanos, profetas e deuses.
Tarda-me a achar o caminho dos caminhos."
António Quadros
Olá, caros ouvintes, o programa de hoje é dedicado a um pianista que foi um dos músicos mais importantes do movimento cool.
No início da sua carreira, Brubeck obteve óptimas criticas ao seu desempenho mas logo depois de ter alcançado um enorme sucesso, com os seus primeiros discos, criticas tornaram-se todas bem negativas.
Diziam elas que Brubeck andava a estragar o Jazz tornando-o num folclore. A verdade é que Brubeck nunca deixou de tocar o seu jazz de sempre. O seu objectivo foi, isso sim, explorar novas formas e novos ritmos existentes.
O disco que, hoje, vamos ouvir é um dos mais importantes discos de jazz de todos os tempos. Chama-se Time Out e o tema é, o ainda mais famoso, “Take Five”.
Espero que gostem. Até logo que jazz...
David Sobral
06 abril 2009
Regresso
Desde o 2º Outubro.
Pela segunda vez … fomos ao Alentejo.
Onde sempre fui para encher os olhos daquela planura dourada. O regressar é doloroso, como se fosse, de cada vez, a primeira vez.
É sempre o regresso a uma casa que ainda não deixou de parecer vazia e onde ninguém nos espera, desde um Outubro de um ano qualquer.
Sei que tivemos tempos felizes, todos juntos, aqui, em Moledo, nos passeios que dávamos, só nós ou com amigos; nos piqueniques que fazíamos; nas festas em casa.
Lembro-me, sem que as imagens surjam nítidas, que houve muitos episódios de alegria e boa disposição.. Lembro-me e, no entanto, não as vejo; a não ser que abra um album e essas imagen que se fixaram no papel me transportem para esses tempos em que a realidade era bem diversa.
Era a realidade que íamos construindo, em alicerces seguros.
Tento transportar-me até esses bocadinhos de tempo que vejo espalhados pelos albums, espalhados pelas fotografias em casa…
E, no entanto, é como se nada se tivesse passado, embora seja eu quem está, ali, naqueles pedaços de papel. Frágeis, voláteis. A que, ali, vejo parece-se, em tudo, comigo.
Até o sorriso é, ironicamente, o meu sorriso.
Já não sei sorrir assim; retesam-se-me os músculos do sorrir.
Agora, nem sempre me sinto real, nem sempre me sinto viva.
Não sinto que sinta.
A não ser saudades dum tempo de cuja existência real … às vezes, duvido.
De tão longínquo, de tão estranhamente desgarrado de mim, de tão inatingível e inimitável.
Os rastos desse tempo, percorro-os, diariamente…
Alguns vestígios do David, coloco-os aqui.
Existimos, com certeza.
Mas agora, que sei eu desta minha existência, onde me parece que, às vezes, vou morrendo de tristeza?
Pela segunda vez … fomos ao Alentejo.
Onde sempre fui para encher os olhos daquela planura dourada. O regressar é doloroso, como se fosse, de cada vez, a primeira vez.
É sempre o regresso a uma casa que ainda não deixou de parecer vazia e onde ninguém nos espera, desde um Outubro de um ano qualquer.
Sei que tivemos tempos felizes, todos juntos, aqui, em Moledo, nos passeios que dávamos, só nós ou com amigos; nos piqueniques que fazíamos; nas festas em casa.
Lembro-me, sem que as imagens surjam nítidas, que houve muitos episódios de alegria e boa disposição.. Lembro-me e, no entanto, não as vejo; a não ser que abra um album e essas imagen que se fixaram no papel me transportem para esses tempos em que a realidade era bem diversa.
Era a realidade que íamos construindo, em alicerces seguros.
Tento transportar-me até esses bocadinhos de tempo que vejo espalhados pelos albums, espalhados pelas fotografias em casa…
E, no entanto, é como se nada se tivesse passado, embora seja eu quem está, ali, naqueles pedaços de papel. Frágeis, voláteis. A que, ali, vejo parece-se, em tudo, comigo.
Até o sorriso é, ironicamente, o meu sorriso.
Já não sei sorrir assim; retesam-se-me os músculos do sorrir.
Agora, nem sempre me sinto real, nem sempre me sinto viva.
Não sinto que sinta.
A não ser saudades dum tempo de cuja existência real … às vezes, duvido.
De tão longínquo, de tão estranhamente desgarrado de mim, de tão inatingível e inimitável.
Os rastos desse tempo, percorro-os, diariamente…
Alguns vestígios do David, coloco-os aqui.
Existimos, com certeza.
Mas agora, que sei eu desta minha existência, onde me parece que, às vezes, vou morrendo de tristeza?
Avishai Cohen é o nome do baixista convidado de hoje.
Este senhor é bastante novo e é israelita. Começou por aprender a tocar piano e só aos 16 anos se mudou para o baixo eléctrico e depois para o contrabaixo.
Depois de ter feito a recruta no exército de Israel, durante dois anos, Cohen voltou a pegar na sua arma da música e mudou-se para Nova Iorque.
Como ainda não conhecia ninguém, arranjou emprego como técnico da construção civil para poder pagar a renda.
Isto lembra-me uma outra questão; assim como há médicos e engenheiros entre os emigrantes dos país de leste cá em Portugal, também existem excelentes músicos como maestros e pianistas a trabalhar em empregos precários e inseguros.
É verdade.
Voltando ao nosso convidado.
Avishai Cohen tocou com vários músicos ilustres dos quais destaco o óptimo pianista Chick Corea.
Hoje vamos ouvir um tema do... onde toca Avishai Cohen.
Até logo... ... Jazz Faz Tarde
David Sobral
01 abril 2009
Palavras amigas
Ao Nuno
Só eu sei o quanto essas saudades pousariam com doçura no coração do David.
Só eu sei o quanto essas palavras à mãe do David o enterneceriam.
Porque se houve a certeza de um Amor correspondido e sempre dito, sem vergonha, foi o nosso, meu e do David, mãe e filho.
Se houve Amizade certa, fiel, segura, apesar da distância (por vezes), foi a vossa.
Porque a testemunhei vezes sem conta.
Porque me ri, vezes sem conta, enquanto ele me piscava o olho,
pelo meio de conversas "pi (cantes)", ao telefone.
Tivemos sorte em ter tido este David!
Como amigo.
Como filho.
Partilho, especialmente contigo, mais esta recordação do David, que me faz, ainda agora..., sorrir, sempre que o leio.
Acho que sorrirás também!
Depois de acabar o seu curso profissional de cozinheiro, abandona esta actividade para se tornar num psicopata. Vai então para a América, país dos psicopatas e porque estudar lá fora é sempre importante.
Depois de estudar e aprender com os seus professores, vai ao Psico'r'US, para adquirir os seus instrumentos de trabalho. Quando volta para o seu país, o pato inicia o seu trabalho como psicopata profissional. O Psicopato mata tudo e todos que pareça que andam a meter nojo.
Pessoas, animais, vegetais, anormais.
Enfim, tudo o que lhe meta nojo.
Como qualquer psicopata, também é homem; este nosso amigo tem uma namorada, a Rã Gina. É que o Psicopato, lá por ser marado, não quer dizer que não seja bondoso e não tenha coração.
A sua namorada e a sua mãe têm-no em muita consideração, não o poupando a carinhos. Janta, dia sim dia não, com a sua mãe.
O Psicopato não tem pai. Era mais marado ainda do que o filho e, quando se apercebeu que já andava a meter nojo, suicidou-se.
O Psicopato tem muito sentido de humor e sente-se útil à sociedade só por isso. Antes de matar as suas vítimas, conta-lhes uma anedota,... Por vezes, ela, por si só, é mortal! O Psicopato é tão bom, tão profissional que até consegue provocar o suicídio das suas vítimas.
O Psicopato é bonito, inteligente, tem olhos verdes, não fuma, bebe um bocado, mas não fica bêbedo.
E é marado.
David Sobral/2000
Só eu sei o quanto essas saudades pousariam com doçura no coração do David.
Só eu sei o quanto essas palavras à mãe do David o enterneceriam.
Porque se houve a certeza de um Amor correspondido e sempre dito, sem vergonha, foi o nosso, meu e do David, mãe e filho.
Se houve Amizade certa, fiel, segura, apesar da distância (por vezes), foi a vossa.
Porque a testemunhei vezes sem conta.
Porque me ri, vezes sem conta, enquanto ele me piscava o olho,
pelo meio de conversas "pi (cantes)", ao telefone.
Tivemos sorte em ter tido este David!
Como amigo.
Como filho.
Partilho, especialmente contigo, mais esta recordação do David, que me faz, ainda agora..., sorrir, sempre que o leio.
Acho que sorrirás também!
Psicopato
(Perfil)
O Psicopato é um pato dos seus 21 anos que perdeu a motivação pela vida social. Com a crescente falta de sentido de humor das pessoas, este pato decide assustar todos aqueles que lhe parecem mais adormecidos.(Perfil)
Depois de acabar o seu curso profissional de cozinheiro, abandona esta actividade para se tornar num psicopata. Vai então para a América, país dos psicopatas e porque estudar lá fora é sempre importante.
Depois de estudar e aprender com os seus professores, vai ao Psico'r'US, para adquirir os seus instrumentos de trabalho. Quando volta para o seu país, o pato inicia o seu trabalho como psicopata profissional. O Psicopato mata tudo e todos que pareça que andam a meter nojo.
Pessoas, animais, vegetais, anormais.
Enfim, tudo o que lhe meta nojo.
Como qualquer psicopata, também é homem; este nosso amigo tem uma namorada, a Rã Gina. É que o Psicopato, lá por ser marado, não quer dizer que não seja bondoso e não tenha coração.
A sua namorada e a sua mãe têm-no em muita consideração, não o poupando a carinhos. Janta, dia sim dia não, com a sua mãe.
O Psicopato não tem pai. Era mais marado ainda do que o filho e, quando se apercebeu que já andava a meter nojo, suicidou-se.
O Psicopato tem muito sentido de humor e sente-se útil à sociedade só por isso. Antes de matar as suas vítimas, conta-lhes uma anedota,... Por vezes, ela, por si só, é mortal! O Psicopato é tão bom, tão profissional que até consegue provocar o suicídio das suas vítimas.
O Psicopato é bonito, inteligente, tem olhos verdes, não fuma, bebe um bocado, mas não fica bêbedo.
E é marado.
David Sobral/2000
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