Tudo revive em mim, cada dia.
Não sei que urgência te chamou. Ainda não desvendo razões.
Guardo chaves nas tuas gavetas. Não sei que portas abriam... E para quê?
Se as portas que abrias, não existem mais. Porque lá não vais.
Nada se apaga nem se torna suave na memória, como alguns querem que eu creia.
No princípio, olhar para fotografias parece trazer um alívio ligeiro, tal como ouvir a música habitual.
Como se alguma coisa permanecesse.
Ao fim de um curto espaço de tempo, tudo se torna novamente ausência. São apenas molduras espalhadas pela casa; apenas música.
E a sensação de perda e afastamento vão pesando e pesando e pesando mais.
Não há retorno. As portas fecharam-se. Se fiquei dentro ou fora, não sei.
Nem sei o que é dentro ou fora; vivo num espaço ausente, em contínuo movimento de fuga.
Tudo me diz "Não podes continuar aqui, tu tens que seguir...".
Para onde? Se não encontro o que perdi.
Hoje, vi melancias e regressei a ti...
Parte-se
como uma ânfora desmedida,
o meu coração.
É Junho,
começam a abrir-se as flores da melancolia.
Desço os degraus da casa e da terra.
Fecho os olhos
E por dentro da sua cor,
por dentro da sua luz verde,
esses olhos partem para o mar,
quando o crepúsculo cai do outro lado dos espelhos.
Parece que os girassóis
se erguem na berma das estradas.
Parece que as cegonhas dormem.
Nem tu,
cujo rosto vi desenhar-se tantas vezes
no rosto da lua,
me poderá salvar.
José Agostinho Baptista
1 comentário:
Essa fotografia tua e do David ficará para sempre ligada na minha memória ao poema que o teu filho te escreveu.
Ternura,amor, carinho e uma infinita saudade.
E o David continua aqui, nestas noites silenciosas de céu estrelado,sempre ao meu lado tal como falei com ele pela última vez .. sentado na varanda da sala a enviar mensagens no telemóvel antes da viagem a Paris ..."Nini,tu vens para o Porto não vens?.."
Vou David, estou quase a chegar...
Beijos.Nini.
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