15 junho 2008

Contornos indefinidos



Porque todas as recordações são a mesma recordação - memória dos teus dias – é aí que estou parada.
Procuro, nos olhares de quem me olha, um caminho possível, um gesto que me agarre ou um sorriso que me seja familiar.
Mas estão longe, só lhes vejo os contornos indefinidos.
Não os identifico, apesar de me terem sido familiares, em tempos.
Nada encontro desse lado do espelho, donde me olham de forma estranhamente estranha.
Aqui, onde me encontro, só creio no pó das estrelas que morrem e se transformam, nos espaços siderais e nas que renascem de cinzas lançadas ao mar.
Mas...
Assusto-me com as minhas próprias reacções que, às vezes, me parecem rudes.
Eu não era assim, despida desse manto de tolerância que nos cola aos outros e que nos inibe de dizer palavras que podem ferir – porque não são importantes.
Despida dessa máscara de delicadeza e compostura social...nem sempre me reconheço.
Será que incorporei a crueldade com que a vida me tem tratado?
Será essa a única forma egoísta de aligeirar o peso do doer que me sufoca?
Sinto-me confusa.
Aproxima-se mais um dia 18 e os sinais de fumo persistem.
A negrura da tua ausência, transformada em cinzas, não se dispersa no mar.
Flutua entre cá e lá, ao sabor das horas que me empurram.
As estrelas, essas, …. continuam a brilhar, altas e inatingíveis.
É para lá que olho, quando te procuro.
Sei que será em vão.
Mesmo assim...


UM DOS CAPÍTULOS

Ainda te falta
dizer isto:
que nem tudo
o que veio
chegou por acaso

Que há flores
que de ti
dependem,
que foste
tu que deixaste
algumas lâmpadas acesas.

Que há na brancura do papel
alguns
sinais de tinta
indecifráveis.

E que esse
é apenas um dos capítulos do livro
em que tudo se lê
e nada está escrito.

Albano Martins

1 comentário:

Anónimo disse...

I
NINGUÉM

É o amor que Deus tem/
Quer por Ti quer por Alguém/
É o que tento escrever/
Por Vós sem vos conhecer/
-.-
É um capítulo por ter/
A brancura sem se ver/
É um sinal e também/
Uma flor como convém/
-.-
É o que sinto em ninguém/
Quando Te falta dizer/
Como se vai para além/
-.-
Como se diz conhecer/
Como se agarra um vintém/
De dor que importa vencer/
-.-
Jaime Latino Ferreira