Estou diferente. Sinto-o nitidamente no peso que carrego comigo e que me curva e me puxa os olhos para o chão que piso molemente.
Não me cruzo com ninguém; e, se cruzo, não reconheço porque tudo já foi e passou para uma outra dimensão.
Apesar do sol, há sombras dum espaço já sem tempo.
É a esse espaço esquecido no tempo que teimo em regressar, ao abrir as portas desta casa.
Curva
Antes não nos pesava
O passado,
colhíamos os dias
Ainda verdes,
a frescura da sua polpa
Na vontade dos nossos
Dedos.
Depois vieram os sinais
dos primeiros cansaços
sem remédio,
a noite fincou-se nas pedras,
fez-se de estorvos.
Aquilo que sobrou de ti
cabe-me nos bolsos
e é pouco
para as minhas mãos.
Rui Pires Cabral
1 comentário:
PORTA
Teimo em regressar a esta porta/
Que não teima em se abrir ou se fechar/
Molho minhas mãos nesta comporta/
Que de água jorra límpida a brilhar/
-.-
Teimo eu no peso do vagar/
Da vontade que não tenho nem importa/
Triste não te vejo no andar/
Que chorando em mim grita e me corta/
-.-
Não consegue o Sol irradiar/
Perfurando tua sombra que está morta/
De um espaço que sem tempo a não suporta/
-.-
Sem ver que esquecido ele é horta/
Remanescente vigor que me quer dar/
As chaves do que sabe e quer amar/
Jaime Latino Ferreira
(Sou Amigo da Ana Cristina)
Estoril, 27 de Junho de 2008
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