19 junho 2008

Continuar a resistir.

Estamos em Junho, já não importa o ano...
É mês, sempre, de nascer um filho.
Foi mês outonal do outro filho enfrentar, corajosamente, mais um doloroso percurso, depois dum curto descanso de guerreiro.
Apertámos todos, ainda mais, os laços que nos queriam separar.
Tínhamos medos indizíveis, cruzares de dedos bem cerrados, atrás das costas...
Numa fúria e raiva de vencer!




A PRESENÇA DOLOROSA DO DESERTO


Teu nome é meu deserto
e posso senti-lo
incrustado
no meu próprio território
como uma pérola
ou um gesto no vazio
como o amargo azul
e tudo quanto há de ilusório.

Teu nome é meu deserto
e ele é tão vasto
seus dentes tão agudos
seus sóis raivosos
e suas letras
(setas de ouro e prata
nos meus lábios)
são o meu terço
de mistérios dolorosos.

(Micheliny Verunschk, publicado em Na Virada...)

1 comentário:

Anónimo disse...

DO LUTO À VONTADE DE VENCER

Isabel

Minha Querida Amiga,

Há perdas e perdas ...!

Há perdas mais densas do que outras, umas irremediáveis e outras que o não são.

Tenho um filho, amo-o e por tal ser, poderei imaginar embora sem o sentir o que será perdê-lo e diante da Sua perda apenas posso dar graças da sorte que me bafejou e que na Minha Amiga e no Seu filho, se não cumpriu assim.

Afirmo-o sem vanglória e acredite, diante dela, da Sua perda, apenas me posso, humildemente, solidarizar Consigo.

Uma das maneiras que encontro de ser solidário Consigo, aquela que por excelência me inspira, é dar-Lhe testemunho do que, por aproximação e apenas por aproximação (!), sei ser o sentimento de perda e de como por sua via e resolução, poderemos encontrar aquilo a que chamarei a nossa grande força:

Há muitos anos, há quase vinte e por esgotamento, rompeu-se aquela que considerava ser a minha relação de amor e na qual tudo investia ou julgava, pelo menos, investir.

O meu amor não morreu, partiu antes para outra como convencionalmente e muitas vezes se diz sem que se meça a crueldade implícita à expressão.

Ao contrário porém do que seria, eventualmente, previsível, eu decidi, num primeiro tempo não partir, lutar pelo objecto do meu amor, não desarmar, mas sempre sem cair na utilização de armas menos legítimas e sem violentar o próprio ou terceiros envolvidos.

Lutei pelo objecto do meu amor!

Sei que na atitude inesperada com que reagi, não só não violentei fronteiras como não utilizei armas ilegítimas que tão só se projectassem em chantagem ou coacção psicológica que fôsse e nessa atitude gerei imensa perplexidade à minha volta.

Tanta que até por doido me tomaram!!!

Eu próprio, cheguei a duvidar da minha sanidade mental mas não desarmei!

Cheguei a pensar, não que o desejasse mas pensei, que mais fácil teria sido se a Outra parte tivesse morrido sem que a continuasse a ter de ver por aí ...!?

Uma obra começou então a crescer e nunca mais terminou ...

Vi-me num filme, numa História com maiúscula e percorrendo todos os inimagináveis cambiantes que esta nos pode oferecer!

De uma Inês de Castro a um Amor de Perdição, da mitologia ao reencontro com a Religião e escrevo-A também com maiúscula porque o ser-se religioso, para mim não prescinde de toda a racionalidade e de todos os porquês, da Política à Filosofia, da literatura às artes, à música e por aí fora, a inspiração jorrou em catadupa depois de um primeiro e avassalador momento em que o medo, o pânico e o pavor me fracturaram e cingiram de novo e de alto a baixo!

O cantor que fôra em criança transfigurou-se da voz na escrita e esta, como vai vendo, não pára nem se cansa de brotar.

Tudo passei a ver com outros olhos e o Amor, agora Amor com letra grande também, de novo veio ao meu encontro quando pensára que O perdera para sempre!

A vida muda, por vezes dramática e radicalmente, rompe-nos por dentro em ferida aberta e de sarar quantas vezes duvidoso, mas essa ferida pode, tenho que Lhe dizer assim e sem rodeios, sem rodear, tão pouco, a perda que se teve mas acarinhando-a connosco e para sempre, pode, dizia, transformar-se na nossa grande e imprevisível força transfiguradora também!

Tudo isto para Lhe dizer que a autocomiseração, por paradoxalmente cómoda ser, também não é futuro ...!

E a Minha Amiga sabe-o e sabe também que nessa rota que por estes caminhos percorre em busca da fresta de passagem, sabe, dizia, que a encontrará!

Se é que a não encontrou já ...!?

E saiba também que pode contar comigo, Seu e Amigo como da Ana Cristina que trago no meu coração,

Jaime Latino Ferreira
Estoril, 1 de Julho de 2008