Fala-se de dias e dias que escorrem ... sem um filho que partiu! Fala-se à toa ... e escreve-se, sempre, para silenciar a saudade ou as lágrimas. À toa ...
14 março 2008
Talvez um dia...
Dizem que o tempo sara as feridas deixadas pela morte daqueles a quem queremos muito.
Não sara! As minhas feridas chamam-se tristeza, raiva, melancolia, desânimo, desconcerto e raiva, novamente.
O tempo tem passado; as feridas mantêm-se abertas e há dias em que a saudade do David me domina, por completo, e só me resta o regresso ao passado.
Ainda assim, dizem-me que sou forte!
Talvez!
Escolhi este poema.
É bonito, mesmo sendo triste.
Talvez, um dia, as escolhas mudem...
Não vale a pena espantar a tristeza. A vida é apenas o que é!
A vida da morte
Ouvir chover, não mais, sentir-me vivo
o universo convertido em bruma
em cima a consciência como espuma
por onde as compassadas gotas crivo.
Morto em mim tudo quanto seja activo
enquanto toda a visão a chuva esfuma
e, lá em baixo, o abismo onde se suma
da clepsidra a água; e o arquivo
desta memória, de lembranças mudo
o ânimo saciado em inércia forte;
sem lança e, por isso, já sem escudo,
tudo à mercê dos vendavais da sorte;
este viver, que é o viver desnudo
- não é acaso o viver da morte?
Miguel de Unamuno
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