26 março 2008

Sempre e de repente!


Ao longo de todos os dias, o tempo pára, de repente.
Escurece cá dentro e caio no abismo do tempo, que me leva de regresso àquele tempo que se escondia entre nós e o som da esperança.
E as imagens ressurgem.
Penosamente...


(Escrito de memória)
  1. Um pequeno depósito de incredulidade no fundo dos teus olhos.
  2. Um breve estremecimento no movimento do coração (do meu coração).
  3. A impressão de alguém olhando-te atrás de ti.
  4. Uma voz familiar num sítio cheio de gente (que só tu ouves dentro de ti).
  5. Um súbito silêncio entre as sílabas de certas palavras que fica depois a pairar perto dos lábios.
  6. A ignorância de alguma coisa que ainda não sabes que não sabes.
  7. Uma palavra só, aguardando uma palavra que basta dizer ou não dizer, abrindo caminho entre ser e possibilidade.
  8. O que não sou capaz de dizer dizendo-me.
  9. Eu (um lugar vazio) para sempre; tu para sempre.
  10. Outras duas pessoas de que outras duas pessoas se lembram.
  11. Esse país estrangeiro, o tempo.
Manuel António Pina

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