Ao longo de todos os dias, o tempo pára, de repente.
Escurece cá dentro e caio no abismo do tempo, que me leva de regresso àquele tempo que se escondia entre nós e o som da esperança.
E as imagens ressurgem.
Penosamente...
(Escrito de memória)
- Um pequeno depósito de incredulidade no fundo dos teus olhos.
- Um breve estremecimento no movimento do coração (do meu coração).
- A impressão de alguém olhando-te atrás de ti.
- Uma voz familiar num sítio cheio de gente (que só tu ouves dentro de ti).
- Um súbito silêncio entre as sílabas de certas palavras que fica depois a pairar perto dos lábios.
- A ignorância de alguma coisa que ainda não sabes que não sabes.
- Uma palavra só, aguardando uma palavra que basta dizer ou não dizer, abrindo caminho entre ser e possibilidade.
- O que não sou capaz de dizer dizendo-me.
- Eu (um lugar vazio) para sempre; tu para sempre.
- Outras duas pessoas de que outras duas pessoas se lembram.
- Esse país estrangeiro, o tempo.
Manuel António Pina
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