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Ontem, a Olga fez anos. Há um ano, jantámos cá em casa. Fiz-lhe um jantar simples...tu estavas cansado porque tinhas feito quimioterapia.
Agora, a cada instante, sou transportada para o passado e revivo-o, passo a passo; dia a dia. Sei, desta vez, que a história não acaba bem. E sofro, ainda mais desesperada.
É melhor um poema do que as minhas palavras...
NUM TAPETE DE ÁGUA
Num tapete de água
vou bordando os meus dias,
os meus deuses e as minhas doenças.
Num tapete de verdura
vou bordando os meus sofrimentos vermelhos,
as minhas manhãs azuis,
as minhas aldeias amarelas
e os meus pães de mel amarelos também.
Num tapete de terra
vou bordando a minha efemeridade.
Nele vou bordando a minha noite
e a minha fome,
a minha tristeza
e o navio de guerra dos meus desesperos,
que vai deslizando p'ra mil outras águas,
para as águas do desassossego,
para as águas da imortalidade.
THOMAS BERNHARD
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