Passaram cinco meses e eu não percebo o que, repentinamente, se desmoronou.
Tento aprender a viver com este novo mundo disforme e com o facto de só poder ver o David através de fotografias que me sorriem de cada canto da casa.
A vaga de sentimentos contraditórios que me assaltam, ao longo do dia, cansam-me e chego à noite exausta.
E encolho-me no sofá que não reconheço, numa sala que me parece estranha, numa casa assente em areias movediças.
Nada me pertence... não me revejo aqui, sentada, em frente ao prado, nem nas mesmas ruas que, ainda, percorro.
Só passaram 5 meses! Tanto tempo e, no entanto, tão pouco. Ou será tão pouco tempo e, no entanto, tanto?
Não sei.
Ouço as músicas do David. Não as escolho, ponho-as ao acaso. Na esperança de que me tragam a coragem e a força que ele tinha.
Espero o sorriso dum bébé que me aceite como eu sou, agora. Sem perguntas e sem passado!
Procuro as palavras de poetas que falem por mim.
Sobre o seu retrato
Quando a idade fizer de mim o que agora não sou;
E cada ruga me disser onde o arado
Do tempo sulcou; quando um Gelo fluir
Atravessando cada veia e toda a minha cabeça se cobrir de neve;
Quando a morte exibir o seu frio sobre as minhas faces,
E eu, a mim mesmo no meu próprio retrato procurar
Não encontrando o que sou, mas o que fui;
Duvidando em qual acreditar, neste ou no meu espelho;
Embora eu mude, este permanecerá o mesmo;
Tal como foi desenhado, reterá a compleição primitiva
E a tez primeira; aqui poderão ainda ver-se
Sangue nas faces e uma penugem sobre o queixo.
Aqui a testa permanecerá lisa, o olhar intenso,
O lábio rosado e o cabelo de cor jovem.
Contemplai que fragilidade podemos ver no homem,
Cuja sombra é menos do que ele propensa à mudança.
Thomas Randolph
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