27 março 2008

Nuvens negras


Saí de casa; coisa que faço, cada vez mais, raramente.
Fui ao médico. Custa-me ir aos médicos.
Fazer exames de rastreio. Por que razão hei-de ter o que nunca tiveste?
Só me sinto a salvo dentro do círculo que construí.
A porta permanece fechada.
A minha desordem vai-se amontoando...
E, de noite, o desassossego dos sonhos.

Mas haverá sempre um poema, mesmo que eu não tenha nada a dizer.

Coração batendo sem que se ouça

Dias se sucedem
semanas se sucedem,
torvelinham
num galope célere;
como se cavalgássemos
sobre um tempo de aço
voando.

Assim a vida,
ela nos atravessa -
o ouvido zoa,
o coração dispara,
como se quisesse
saltar para
fora,
- é só o que lhe resta!

Se alguém
tenta detê-lo,
ele se altera:
toca a rebate,
dá por paus e pedras!

E quantas vezes
o coração
explode
e não se ouve
a explosão
que o sacode.

Nikolai Asséiev

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