29 junho 2008



Sinto um sonambulismo e uma apatia estranhos.
Não reconheço a casa, nem os espaços em que habito.
Não tivémos tempo de criar rotinas ou raízes, aqui.
Não chegámos, sequer, a esvaziar os caixotes que trouxémos da casa antiga.
Ficaram encostados a um canto, na garagem.
Havia tempo.
..................
E tempo há; nós é que não.
E não me lembro do que se fazia nos meses de calor.
É o primeiro mês de Junho que passamos, aqui, sem ti.
Deste lado da secretária que era o teu, tento imitar-te os gestos, os olhares.
Crio as penumbras necessárias...ao resto da encenação.
Mas nada altera esta ausência de sentido que me aperta o coração





Mede com as mãos
o espaço
de uma vida.
Não sabe como se chamava,

quando viveu,
que idade tinha

quando amou pela primeira vez.

É pura matéria o que tem pela frente,
e o frio do osso entra por ela,
pedindo uma conclusão.

Mas
que pode ainda dizer?
Nenhuma certeza
nasce do pó;
e só um antigo
fogo
reveste de saudade
a penumbra
que a atormenta,

aquecendo-lhe o coração
onde pulsa o medo do mundo.

Nuno Júdice

1 comentário:

Anónimo disse...

AFINAL ...

O mundo tem medo
Do pulsar do coração
Do fogo que o atormenta
Da saudade e da razão
-.-
Pó de matéria não mente
Sem chegar a conclusão
-.-
Espaço de vida que é rente
Se tem nome nele assenta
A vontade e o perdão

Jaime Latino Ferreira
Estoril, 29 de Junho de 2008