Há tantas mães orfãs de filhos!
Tantas!
Vamo-nos conhecendo, sem nos vermos, sem falarmos olhos nos olhos ...
Vamo-nos "descobrindo", sem nos procurarmos.
As mães orfãs entendem-se, dizendo pouco. São sorrisos tímidos, doces e tristes.
São olhares que, brevemente, se ausentam. São trocas de curtas expressões que sabemos só serem possíveis da parte de quem sofreu e sofre a morte de um filho.
É da morte anti-natura.
Mas há também longos desabafos ... para dizer o que já foi mil vezes dito, sendo que é como se fosse sempre a primeira vez.
Não há manifestações de impaciência; não há constantes olhares para o relógio no pulso.
O tempo não tem pressa.
Estamos ali, umas para as outras; aceitando, sem acordo tácito, que a dor de cada uma é a maior dor.
Há um elo invisível mas forte que se instala entre nós ... porque sabemos o que a outra ou o outro sente. O quanto lhe dói aquele dia de aniversário do filho perdido; a impotência amarga perante o sofrimento físico ou psicológico do filho e que continua (talvez mais forte ainda) depois da morte dele; o pedido de ajuda a que não conseguiu acudir; aquele último olhar a desprender-se ... mas a querer ficar.
As palavras que ficaram por dizer.
Vi e senti este olhar no sorriso do Tiago Alves, numa fotografia em que está com a mãe no hospital.
Sorriem os dois!
Mas quanta dor, quanto sofrimento, quanto desespero, quanto amor se desprendem desses olhares que se despedem!
E imagino uma lágrima que cai dos olhos do Horácio ... do outro lado da máquina fotográfica ... pedindo-lhes que sorriam.
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