12 fevereiro 2011

Para não incomodar!


Vou-me habituando a ir ver espectáculos! 
Custa-me sempre; a paixão do David era a música e dedicou-se a iluminar palcos ... "para poder estar sempre perto da música".
Fui ver a Maria João, ao Rivoli, onde apresentou o seu trabalho mais recente - Ogre.
Nome esquisito ... excelente espectáculo, do princípio ao fim. É diferente dos outros; um novo estilo "mais techno", mais difícil é verdade. Talvez por isso, a sala tivesse enchido só um terço. Quem quer fazer um esforço de ouvir coisas novas? O ouvido não está habituado, não vale a pena! Ainda se fosse sempre a mesma coisa!
Fiquei triste pela cantora, que é excelente ... mas a nossa gente não está habituada à excelência. A voz pode ser um "instrumento" belíssimo e é o caso da Maria João, reconhecida a nível internacional. Ainda se fosse um desses cantores de baladas suaves com voz para derreter manteiga, ou outro mais ou menos pimba ... vá lá, talvez aparecessem. Sempre podem cantar a acompanhar! Não se nota a desafinar!
Fiquei triste pelo Rivoli! Tanta polémica, tanta luta, tanto engalfinhamento, à volta desta bela sala do Porto quando ela foi entregue ao Filipe la Féria e ao teatro revisteiro ... e, mal surge a oportunidade de se poder mostrar que gostaríamos de poder ter de volta esta sala para o Jazz, o Cinema, .... o pessoal o que faz? Fica em casa!
Fiquei triste porque o David foi um dos que muito se entristeceu e revoltou quando deixou de poder assistir aos espectáculos do Novo Circo, do Festival de Jazz, do Fantasporto, e outros nesta sala portuense. No meu livro, está a carta que ele escreveu ao Rui Rio a "lamentar" terem-lhe tirado o Rivoli. Ficaria delirante (um termo típico do meu filho) com esta nova oportunidade de (re)criar público para o Rivoli. Estaria, provavelmente, a fazer as luzes deste espectáculo! A Maria João apreciava o talento dele!
No fim, fomos (eu e o Manel) oferecer-lhe o livro "Mamã, vamos dançar?". A Maria João é uma das pessoas a quem estarei eternamente grata ... pelo David, na fase mais difícil da vida dele ...
As salas de espectáculos e o ambiente da luz que ilumina a música fazem-me, sempre, chorar baixinho.
E chorei ... baixinho ... a presença de tanta saudade!


AUSÊNCIA
(Nuno Júdice)

Quero dizer-te uma coisa simples: a tua
Ausência dói-me. Refiro-me a essa dor que não
Magoa, que se limita à alma; mas que não deixa,
Por isso, de deixar alguns sinais - um peso
Nos olhos, no lugar da tua imagem, e
Um vazio nas mãos, como se as tuas mãos lhes
Tivessem roubado o tacto. São estas as formas
Do amor, podia dizer-te; e acrescentar que
As coisas simples também podem ser complicadas,
Quando nos damos conta da diferença entre o sonho e a realidade.
Porém, é o sonho que me traz a tua memória; e a
Realidade aproxima-me de ti, agora que
Os dias correm mais depressa, e as palavras
Ficam presas numa refracção de instantes,
Quando a tua voz me chama de dentro de
Mim - e me faz responder-te uma coisa simples,
Como dizer que a tua ausência me dói.

2 comentários:

Valbuterflay disse...

Olá,
Digo sempre que a minha mãe é mulher mais linda do mundo, que nenhuma modelo famosa chega aos seus pés...,
Encontrei seu blog sem querer, estava á procura de figuras de borboletas e ele me apareceu, li todo ele desde a primeira publicação.. entendo... a palavra mãe é todo o significado da beleza.

Isabel Venâncio disse...

Obrigada e um abraço para o outro lado do Atlântico.
Isabel