07 fevereiro 2011

"Mamã, vamos dançar?"

Num almoço de amigos, neste fim de semana, uma lágrima não resistiu à decisão que me impus de não perturbar estes encontros com a angústia que, às vezes, se instala, sorrateira, dentro de mim.
E se quer soltar.
Foi uma lágrima de satisfação pela sensação de uma parte do dever cumprido.
Falo do meu livro "Mamã, vamos dançar?".

Sabes, Isabel, qual foi a reacção de dois dos médicos a quem ofereceste o teu livro? Já te disseram? Que o leram quase de uma só vez! Que um deles, além de ter apreciado a tua forma de escrever ... achou que a mensagem que transmites é importante. É importante que os médicos saibam o que se passa do outro lado da "barricada". Durante esse viver invisível que tu relatas de forma dolorosa mas descreves de forma clara e humana. Que o outro, o que acompanhou o David mais de perto, gostou também, apesar da dureza do que leu, ... mas confessou, sobretudo, que lhe foi muito útil ler o livro! Vai tê-lo mais presente no espírito, no futuro, durante a prática clínica.

Turvou-se-me a vista ... chamei o Manel ... emocionada ...
Esse era também um dos meus objectivos, nas minhas explosões de dor quando eu pressentia que a verdade nua e cruel se tornaria insustentável. Para o meu filho!
E eu não sabia como fazer.
Que bom ter conseguido passar a minha opinião sobre a forma como acho que se deve abordar o doente ainda jovem ... sabendo-se que, para ele, no dia seguinte, não é certo que o sol nasça.

Tal como dizia, às vezes, o David "Foi uma lágrima de alegria!"
O meu filho ficaria satisfeito por mim!
E pelo valor que ele tanto prezava - Solidariedade.
Sempre!




Ser Solidário
(José Mário Branco)

Ser solidário assim pr’além da vida

Por dentro da distância percorrida
Fazer de cada perda uma raiz
E improvavelmente ser feliz

De como aqui chegar não é mister
Contar o que já sabe quem souber
O estrume em que germina a ilusão
Fecundará por certo esta canção

Ser solidário assim tão longe e perto
No coração de mim por mim aberto
Amando a inquietação que permanece
Pr’além da inquietação que me apetece

De como aqui chegar nada direi
Senão que tu já sentes o que eu sei
Apenas o momento do teu sonho
No amor intemporal que nos proponho

Ser solidário sim, por sobre a morte
Que depois dela só o tempo é forte
E a morte nunca o tempo a redime
Mas sim o amor dos homens que se exprime

De como aqui chegar não vale a pena
Já que a moral da história é tão pequena
Que nunca por vingança eu te daria
No ventre das canções sabedoria



Sem comentários: