Fala-se de dias e dias que escorrem ... sem um filho que partiu! Fala-se à toa ... e escreve-se, sempre, para silenciar a saudade ou as lágrimas. À toa ...
28 junho 2009
No Templo do Tempo
Fim de semana inteirinho com o meu neto - alegre, olhitos negros grandes e brilhantes.
Quase a querer andar, como um soldadinho de chumbo, de perna e pés esticados e sempre prontos para o próximo passo.
De dedo também espetado a indicar o caminho.
Sem tempo para pensar, ao longo do dia.
Mas ao anoitecer, tudo muda.
E sei que é tarde, no Templo do Tempo.
Ninguém responde às cartas que te escrevo.
Andarás no mar ou nas asas de algum albatroz?
Agora, é tarde.
Ninguém nem nada acalma a tempestade de dor que se albergou, lá no fundo dos meus olhos.
E se fixou no Tempo.
Chet Baker
Olá, caros ouvintes!
Hoje, vamos falar sobre um trompetista que se chama Chet Baker e que foi um dos criadores e impulsionadores do estilo Cool. Já aqui falámos, em rubricas passadas, sobre este estilo e dissemos que se caracterizava pelos solos e sons mais calmos e ao mesmo tempo com mais textura sonora.
Chet Baker não foi famoso apenas por causa do trompete, mas também porque cantava e porque era uma pessoa muito dada à vida social. Apesar da sua fama e de ser uma pessoa bem parecida, a sua vida ficou manchada devido à sua dependência de drogas duras.
A vida deste senhor não foi fácil. O pai era guitarrista e teve de abandonar a actividade devido à grande depressão económica que atingiu os Estados Unidos, no final dos anos vinte.
Baker cantou em coros de igrejas e começou, desde cedo, a sua formação musical. No entanto, durante o resto da sua vida tocou quase sempre de ouvido sem precisar de partituras nem de ler música.
Até amanhã e oiçam o Chet Baker... que jazz faz tarde.
David Sobral
Chet Baker
But not for me
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4 comentários:
"De dedo também espetado a indicar o caminho"...
O Olhar Puro da Inocência é o único que merece o Absoluto da Sabedoria...
TEMPLO DO TEMPO
No templo do tempo
Quem te garante
Que em cada um de nós
Vindas de Levante
Não se ergam
Um pouco das respostas
Em puzzle
Que teu filho te daria
No mar das asas
Albatroz
Como se fosse sua
A voz
Nunca é tarde para acalmar a dor
Tempestade
Que trazes nos teus olhos
Jaime Latino Ferreira
Estoril, 29 de Junho de 2009
Não sei se esta é a altura certa, não sei se devia deixar aqui este excerto, mas ontem li o livro do José Luis Peixoto- Morreste-me- e não parei de pensar em si. A minha dor relativaza-se tanto na sua que me sinto obrigada a pedir desculpa por me doer tanto uma perda que não foi uma morte. Aqui lhe deixo esta passagem com todo o meu amor por si:
"E não quero e não posso esquecer o que outrora senti no teu olhar. Pai, fiquei no silêncio do inverno que abraçaste. Não há primavera se não imaginar erva fresca das palavras erva fresca ditas por ti; não haverá verão se não imaginar o sol da palavra sol dita por ti; não haverá Outono se não imaginar o fundo do esquecimento da palavra morte dita nos teus lábios. Por isso, pai, no ar, o silêncio de ti é sofrer, no tempo que não passa já. Não passa o tempo, sustentado na mentira das coisas pequenas falsas que só já mudam de lugar, que apenas se sucedem, que unicamente tomam o sítio uma das outras, a mentirem, deixando rasto, restolhando o seu caminho com patinhas de rato entre os arbustos secos mortos e os arbustos verdes viçosos: e nasce o sol do acaso último que morreu contigo; e brisas fingem as brisas verdadeiras que te tocaram o rosto; nem as nuvens, nem o firmamento são os mesmos: apenas mentiras a substituírem mentiras a cada momento que não passa. Faltas tu a levar o tempo".
DOESTE-ME
No tempo sem Templo
do tardio Tempo
quem diz
as palavras
quem desenha
as respostas
com tempo
Quem mergulha nos olhos
o fundo do mar
quem alberga na noite
um soldado a chorar
onde está a bailarina
que o faz cantar
a tempo
Manuela Baptista
Estoril, 29 de Junho 2009
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