23 janeiro 2009

Estou bem...



Há sempre mais qualquer coisa a dizer.
Que estou bem.
Que escrever aqui é a minha forma de diluir a dor para que não se acumule no meu sangue cansado.
Que gosto de quem me escreve; nem que seja só por escrever.
Que, ao responderem às minhas não perguntas, transportam qualquer coisa do David.
Que acredito (e não quero que seja de outra forma) que, só com o David perto de mim, conseguirei manter-me disponível para os outros.
Que com o David aprendi a relativizar os dramas; a ser mais generosa; a esperar que cada dia chegue ao fim para pensar, então, no dia seguinte; a valorizar todos os sorrisos com que me mimam e a desvalorizar palavras menos simpáticas.
Que não aprendi, ainda, a perdoar...
Daí... uma certa forma de revolta.
Daí...a mágoa.
Mas estou bem.
Mesmo não estando.



TESE

Navego num estreito rio de desenganos

Guiado por uma luz que é minha fonte

Inscrito meu desejo todos os anos

De um tempo que é futuro meu horizonte

-.-

Assim o que já foi está para acontecer

Presente que é passado e não tem nós

É como um mar que brada em sua voz

Tudo o que já vivido está para ser

-.-

Tudo o que não dito já foi escrito

Anda-se parado neste arado

É barco que navega pelo tempo

-.-

Certeza pode ser um duro engano

Já que o pensar se perde com o vento

Como o sonho que se agarra ao passado

-.-

( No molde de Antítese de Nuno Júdice )

-.-

Jaime Latino Ferreira
Estoril, 20 de Janeiro de 2009

6 comentários:

Anónimo disse...

ISABEL VENÂNCIO

Querida Amiga,

Não imagina, depois de a ler nesta página, como me sinto bem!

A alegria que me invade por saber do que escreve ou diz, do alento que me inspira, dos dês ( de D ) em que acredita afinal, D de diluição da dor, D de disponibilidade e de desvalorizar, de dia seguinte e de dizer, para além do Seu grande D que das não respostas sempre sente serem parte de uma parte do David!

Que bom ouvi-La assim e voltar, de novo, a estar Consigo neste que já vai sendo um vício, desculpe-me a crueza ou um desejo que realizo com muito gosto por sentir-me, afinal, como todos os que por aqui passam, de alguma utilidade.

Como me sinto bem ao constatar que afinal, se distância entre nós existe, pela palavra ela se dilui e nos aproxima num aconchego quente e apelativo, nada indiferente e mesmo ou por maioria de razão, na aceitação e cumplicidade das nossas enriquecedoras diferenças.

Diferenças de percursos, de sentires e de olhares ...

Um grande beijinho para Si e, com a cumplicidade de Deus, um abraço forte para o David, Seu

Jaime Latino Ferreira
Estoril, 24 de Janeiro de 2009

Anónimo disse...

As casas grandes são assim, têm muitos quartos, salas, dispensas, esconderijos, sotãos e quintais.

Às vezes têm divisões sem janelas onde não entra o sol e onde vai parar tudo o que de momento não queremos, mas que um dia nos poderá fazer falta.

Numas rimos e cantamos, noutras sonhamos e em outras ainda choramos e gritamos!

As casas com alma comprendem sempre o que queremos dizer, fazem-nos crescer e tornam-nos melhores.

São assim...

Manuela Baptista
Estoril,24 de Janeiro 2009

Ana Cristina disse...

Se estás bem nós também ficamos bem.

O David está lindo nesta foto.
Um sorriso contagiante que nos enche de calor em noites frias de Inverno.

Um "D" de que falarei sempre porque também a mim me acalma a dor quando digo o nome dele.
O David faz e fará sempre parte da nossa vida, das nossas casas, de todas as nossas casas e de todos os nossos estados de alma.

O Porto está a ganhar 2-0 ao Braga.
O David já se teria levantado do sofá e gritado goloooo, pelo menos 2 vezes :)

Bjis.
Nini

Anónimo disse...

Perto

Às vezes esta dor faz-me doer
como pássaro caído
em rua fria
cacto
espinho
pico
lâmina
X-acto
com que rasgo o tempo

Manuela Baptista
Estoril,28 de Janeiro 2009

Isabel, aceita tomar um café? :)

Anónimo disse...

Isabel,só passei para lhe dar um bjinho de fim de semana ;)
MM

Ana Cristina disse...

Casas

Casas-casas roucas
Atentos muros-umbrais medidos e solenes
Quarto após quarto penumbra sequiosa
Tectos lentos
Como no espelho afloram
Lagos e magia:caminho
Submerso do possível

A paixão habita seu jogo mais secreto
Sua trágica e precisa
Perfeição


"Ilhas"
Sophia de Mello Breyner Andersen

1 beijo.
Nini