A noite convida ao sono.
E quando o sono não vem?
E abro lentamente a porta do quarto.
E desço as escadas, devagarinho, pé ante pé.
Para não acordar o silêncio quieto da casa.
E inspiro o ar da noite, na janela da cozinha.
E procuro a claridade da aurora.
Que não tarda.
Há estrelas que me conhecem bem, de tanto me verem.
Silhueta recortada na claridade da cozinha iluminada.
A horas estranhas.
Horas em que a casa dorme.
E respira imperceptivelmente.
Na noite parada, sobre as luzes dos candeeiros.
Eu não; eu tenho um caminho a percorrer.
O mesmo caminho de ontem.
Talvez ...
Com certeza, o caminho da amanhã.
A noite, cada noite, de forma mais ou menos impaciente, sob os meus olhos fechados, abre as cortinas e desvenda o palco que se esconde da luz do dia.
Em cena, os mesmos actores.
Em cena, a mesma paixão desesperada por assistir a um novo dia.
Em cena, as mãos que não querem separar-se de outras mãos.
Em cena, uns olhos que procuram um olhar sob as pálpebras cerradas.
Em cena, eu.
Em cena, o meu filho.
Em cena, a repetição da vida em risco.
A repetição de um respirar cada vez mais brando, cada vez mais breve, cada vez mais sopro.
E recordo mensagens insinuadas em letras de músicas.
Adormeço, exausta, num sono profundo, pesado e curto.
"Que bom aspecto tu tens, Isabel!"
Ainda bem.
Agora que voltou tudo ao normal
Talvez você consiga ser menos rei
E um pouco mais real
Esqueça
As horas nunca andam para trás
Todo dia é dia de aprender um pouco
Do muito que a vida traz.
Esqueça
As horas nunca andam para trás
Todo dia é dia de aprender um pouco
Do muito que a vida traz.
Mas muito pra mim é tão pouco
E pouco é um pouco demais
Viver tá me deixando louca
Não sei mais do que sou capaz
Gritando pra não ficar rouca
Em guerra lutando por paz
Muito pra mim é tão pouco
E pouco eu não quero mais
E pouco é um pouco demais
Viver tá me deixando louca
Não sei mais do que sou capaz
Gritando pra não ficar rouca
Em guerra lutando por paz
Muito pra mim é tão pouco
E pouco eu não quero mais
Chega!
Não me condene pelo seu penar
Pesos e medidas não servem
Pra ninguém poder nos comparar
Porque
Eu não pertenço ao mesmo lugar
Em que você se afunda tão raso
Não dá nem pra tentar te salvar
Não me condene pelo seu penar
Pesos e medidas não servem
Pra ninguém poder nos comparar
Porque
Eu não pertenço ao mesmo lugar
Em que você se afunda tão raso
Não dá nem pra tentar te salvar
3 comentários:
Bom dia. Era para dizer que já li, eu e a minha mulher o livro ao tempo mas só agora ganhei coragem em falar.
A minha mulher gostou de o ler, ela sim é que entendeu melhor o David, porque a ela fez, se lembrar os momentos dela no hospital.
Pela maldita doença...
Como a Isabel escreveu no livro, ter vindo ``conhecer`` melhor o David.
Só posso dizer que adorei ``conhecer`` melhor o David, dá para ver que ele era uma pessoa meiga, bondosa, carinhoso e amigo do amigo, mas só podia ser filho de quem é,só podia ter as boas qualidades da grande Mãe, e uma grande amiga que a Isabel é.
Um grande beijo deste seu amigo Paulo.
desculpe pelos erros:):)
Paulo Jorge
Boa tarde!
O meu nome é Sónia, sou irmã de uma das enfermeiras do hospital de dia do HGSA, que cuidou do David e que me deu a conhecer o seu livro. Fiquei muito emocionada e comovida com a sua história e com o desenlace da vida do David, até porque teríamos a mesma idade. Deixo-lhe estas palavras de animo e coragem, pois fui mãe recentemente e nem quero imaginar a dor dilacerante que a Isabel sente todos os dias. Sou, a partir de agora seguidora do seu blog, e quero que saiba que penso bastante em si e que embora nao nos conheçamos lhe quero transmitir muita força!
Perdoe-me esta intromissão
Um Beijinho com muito carinho
Olá, Sónia
Obrigada. As enfermeiras do Hospital de Dia foram espantosas e muito ternas com o meu filho. Acho que se afeiçoaram a ele e à forma risonha e bem humorada com ele se relacionava com elas.
Obrigada por ter querido conhecer o David através do meu livro. Acho sinceramente que ele foi um exemplo de coragem e paixão pela vida.
Eu recordo-o todos os dias e ainda não secaram as lágrimas das saudades.
Não vão secar.
Felicidades para o seu bebé.
Um beijo
Isabel
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