Às vezes, em breves encontros, perguntam-me em tom de quem não espera resposta ... se eu não gosto da situação emocional em que vivo, sempre volteando, volteando em volta do David.
Soa-me sempre a pergunta de retórica!
Quase me asseguram que é assim, que eu me acomodei e nada faço para sair deste estado de contínua dor a que me habituei.
Não sei bem o que respondo.
Será que é para responder?
E que resposta daria ou devo dar?
A falta que o David me faz tem cor; é da cor do sangue da ferida que não sara.
É transparente como o tempo que me afasta dele e não se adensa; não se apagam as torturas que sofremos. Eu e ele.
Gosto desta situação?
Não!
Porque o David morreu e eu sinto-lhe a falta do sorriso, do cheiro, do modo de andar, das gargalhadas sonoras, da música que se ouvia mal ele entrava em casa, das notícias que trazia do dia, da rua.
Como poderia gostar?
E no entanto, não imagino os meus dias de outra forma ... sem a sensação desta perda recente e intemporal.
Não me imagino sem sofrimento; faz parte do que sou.
Está presente em cada dia que passa, em cada olhar que lanço em busca das eólicas no cimo do monte fronteiro ao nosso pátio de Moledo, em cada som (ainda que distante) do marulhar das ondas, no colorido do céu ao lusco-fusco.
A amargura da ausência do meu filho é uma permanente presença.
Talvez inconscientemente eu não aceite viver aquilo que ele já não pode viver.
Seria um direito meu ... se também fosse dele.
Mas não é!
As raízes que nos prendiam à vida, o olhar confiante com que brindávamos o amanhecer ... tudo, tudo nos foi violentamente arrancado.
Doeu tanto! Engolimos tanto desespero! Secou-se-nos a garganta de medo. As palavras deixaram de ter significado. Só as lágrimas, no escuro, falavam verdade.
Que posso responder aos que me questionam?
Que sabem elas da morte do filho a quem se deu vida?
Que sabem elas da intensidade do amor que eu tinha e tenho pelo meu filho?
Saberão que talvez não saibam?
Talvez não queiram saber.
Talvez não tenham consciência de que a proximidade do experimentar esse tipo de dor ... ela própria provoca um calafrio instintivo de rejeição.
Por ser dolorosa, já.
Talvez por isso me digam que não entendem o meu luto.
O meu chorar.
Soa-me sempre a pergunta de retórica!
Quase me asseguram que é assim, que eu me acomodei e nada faço para sair deste estado de contínua dor a que me habituei.
Não sei bem o que respondo.
Será que é para responder?
E que resposta daria ou devo dar?
A falta que o David me faz tem cor; é da cor do sangue da ferida que não sara.
É transparente como o tempo que me afasta dele e não se adensa; não se apagam as torturas que sofremos. Eu e ele.
Gosto desta situação?
Não!
Porque o David morreu e eu sinto-lhe a falta do sorriso, do cheiro, do modo de andar, das gargalhadas sonoras, da música que se ouvia mal ele entrava em casa, das notícias que trazia do dia, da rua.
Como poderia gostar?
E no entanto, não imagino os meus dias de outra forma ... sem a sensação desta perda recente e intemporal.
Não me imagino sem sofrimento; faz parte do que sou.
Está presente em cada dia que passa, em cada olhar que lanço em busca das eólicas no cimo do monte fronteiro ao nosso pátio de Moledo, em cada som (ainda que distante) do marulhar das ondas, no colorido do céu ao lusco-fusco.
A amargura da ausência do meu filho é uma permanente presença.
Talvez inconscientemente eu não aceite viver aquilo que ele já não pode viver.
Seria um direito meu ... se também fosse dele.
Mas não é!
As raízes que nos prendiam à vida, o olhar confiante com que brindávamos o amanhecer ... tudo, tudo nos foi violentamente arrancado.
Doeu tanto! Engolimos tanto desespero! Secou-se-nos a garganta de medo. As palavras deixaram de ter significado. Só as lágrimas, no escuro, falavam verdade.
Que posso responder aos que me questionam?
Que sabem elas da morte do filho a quem se deu vida?
Que sabem elas da intensidade do amor que eu tinha e tenho pelo meu filho?
Saberão que talvez não saibam?
Talvez não queiram saber.
Talvez não tenham consciência de que a proximidade do experimentar esse tipo de dor ... ela própria provoca um calafrio instintivo de rejeição.
Por ser dolorosa, já.
Talvez por isso me digam que não entendem o meu luto.
O meu chorar.
6 comentários:
Beijinhos.
Nini
ninguém entende o luto dos outros
como entenderiam o seu lutar?
e no pátio de Moledo ainda brilham as leds do David?
e a Isabel sabe que os gansos que conversam comigo todas as noites, me falam de coisas que eu também não sei explicar?
e porque é que temos sempre tanta pressa em sarar o insarável e tanto é o vagar que não sabemos falar de amor?
um beijo
manuela
Eu entendo...tenho uma filha com uma doença crónica, já passei pelos mesmos corredores, do mesmo hospital, dias e dias e sei o que é o sofrimento e a luta que atravessa o espanto de um diagnóstico menos bom e a força que nos move para o ultrapassar, por isso imagino o que é lutar tanto, sofrer tanto para sobreviver e perder a batalha. Ninguém pode saber, só quem é mãe e passa por isso, porque não é suposto e nunca nos preparamos para ver partir um filho à nossa frente.
Beijinhos Isabel.
Branca
ISABEL VENÂNCIO
Querida Amiga,
Cada vez que penso o que seria perder o meu filho, eu entendo o Seu chorar!
Melhor, pior ainda (!), não imagino o tamanho da perda que possa ser!
Como se alguma vez ela pudesse ser mensurável ...
Passa-me um calafrio só de pensar nisso e no tom, na cor que o meu sofrimento poderia assumir ...!
E não sou mãe ... sou pai!
Como não sou de retóricas, há muito que, persentindo a Sua dor, Consigo deixei de retorquir, vou lendo-A, sei que a Sua vida não se esgota por aqui, neste Seu muro de lamentações, desculpe-me a alegoria, e pelo silêncio respeito o Seu expresso sentir!
Se há acomodação?
Por paradoxal que possa parecer, aí, penso que sim:
Há, tanto para o bem como para o mal, o filho que perdeu, para a ausência que irremediavelmente se instalou, a acomodação de quem se predispôs a ser mãe e o foi, que tendo sido para sempre o continuará irremediavelmente a ser ...!
Não gostando do que sente, o que se patenteia-se à evidência por aqui, página após página, não consegue deixar de o sentir!
Mas nós acomodamo-nos quer ao bem como ao mal sentir ...!
Isso sei-o de experiência feita embora apenas cada qual saiba como aprender a viver com a dor.
E isso também depende do tamanho da dor ...!
E como a Isabel não se esgota neste Seu blogue, eu até acho que este Seu muro de lamentações foi a forma que encontrou de aprender a conviver com ela conservando, simultaneamente, viva e eterna a memória do Seu filho.
Desculpe-me a ousadia Seu e sabe que com respeito, dê um beijinho a Sua irmã e outro grande para Si
Jaime Latino Ferreira
Estoril, 29 de Junho de 2011
Olá Isabel (permita que a trate assim)!!!
Acabei de ler no domingo passado o livro que escreveu.Não podia retratar melhor a amálagama de sentimentos que foi sentindo,toda a impotência,todo o amor,toda a dor,desculpe remexer em tudo.....mas é de esperança que quero falar agora,esperança de um dia reencontrar o filho adorado,que de onde estiver sofre por vê-la sofrer, gostará que o recorde..mas com toda a sua alegria,todo o seu altruismo,pela música partilhada,por todos os momentos bons vividos...mas que agora avance como o mesmo amor que lhe deu.. até ao dia do reencontro..Bjinho
ISABEL VENÂNCIO
... já agora, o amor não tem preço!
Jaime Latino Ferreira
Estoril, 29 de Junho de 2011
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