Os dias cinzentos entrecortados de sol
Sons de jazz, drumms, saxofone e um contabaixo ...
Viro a cabeça, em busca do cinzeiro,
As cortinas entreabertas deixam entrar o verde do campo onde pastam as ovelhas.
As mesmas ovelhas?
Numa rotina diária, imutável.
Sem tempo.
Vão avançando pelo campo ...
Três gatas, alongam-se preguiçosas, indiferentes ao tempo, à minha volta.
Sem tempo é também o meu tempo.
Um vazio cá dentro.
En attendant ...
Já vivi este momento
Ou um semelhante
Há muito tempo.
Muito?
Sinto-o ontem ...
...
O meu pé enfaixado descansa numa bolsa de gelo.
Ao lado, umas canadianas amarelas.
Entram acordes de piano ...
O tempo, afinal, avança.
Dizem que sou corajosa.
Mas sinto-me tão frágil.
Tão perdida no espaço destes dias de Abril
Tão iguais a outros que vivi.
Esses sim, dolorosos.
De uma dor atroz, a latejar ao ritmo do coração.
De medo quase desumano ...
Tanto medo.
Pânico.
Lembro-me do medo ... quase o sinto ...
A rodear-me, como se o tempo não tivesse passado.
...
Hoje.
A dor que sinto não é minha.
Eu sou a que me olha das fotografias
espalhadas pela sala.
Estou ao lado do meu filho.
Ambos sorrimos.
Um sorriso melancólico.
A presença dele nas fotografias
Diz-me, cruamente, que este tempo é outro
O tempo infindável, etéreo e pesado
Da ausência dele.
1 comentário:
És uma pessoa muito especial para mim!!!!! Isabel!!!!
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