Ao abrir a janela do quarto para outras
janelas de outros quartos, ao veres a rua que desemboca
noutras ruas, e as pessoas que se cruzam, no início da
manhã, sem pensarem com quem se cruzam
voltar para dentro, onde ninguém te espera.
Mas
o dia nasceu - um outro dia, e a contagem do tempo
começou a partir do momento em que
abriste a janela, e em que todas as janelas
da rua se abriram, como a tua.
Então, resta-te
saber com quem te irás cruzar, esta manhã: se
o rosto que vais fixar, por uns instantes, retribuirá
o teu gesto;
ou se alguém, no primeiro café que
tomares, te devolverá a mesma inquietação
que saboreias, enquanto esperas que o líquido
arrefeça.
Rotina – Nuno Júdice
3 comentários:
abri esta janela
para outras janelas
sem saber com quem me iria cruzar
no início das manhãs
das tardes
e das noites
mas retribuo sempre o gesto
inquieto ou quieto
e encho a caneca com café acabado de fazer
um beijo, Isabel!
manuela
Olá Isabel,
Vou passando e lendo, coisas lindas como esta, embora este texto nos fale de rotina, mas de forma muito singular, como Nuno Júdice sabe fazer, mas há sempre um pormenor que a pode quebrar.
Não tenho escrito muito porque não ando em fase de ser boa companhia.
Um beijo
Branca
Estava convencida que já tinha comentado neste texto, provávelmente fiz alguma asneira e o comentário perdeu-se porque às vezes também me perco com o sofrimento dos filhos, é sempre o que nos devasta mais, por isso a compreendo tanto como mãe, mesmo que saiba que não é possível saber, apenas imaginar. Esta rotina de Nuno Júdice é um belíssimo exercício de reflexão sobre a rotina, para que possamos aprender a quebrá-la, pelo menos sempre que possível.
Um beijinho para si Isabel e que muitas janelas se lhe abram, todas diferentes e com uma luz maior.
Branca
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