18 março 2011

18

Faz hoje três anos e meio que o meu filho David morreu.
Eu mudei; muito.
Parece-me que para pior ... embora alguns digam o contrário.
Tornei-me mais seca e mais indiferente.
Olho as catástrofes ... 
o incómodo, a raiva que sinto são moldadas pelo que eu sei que era correcto que sentisse. 
Cada vez mais sinto que pouco importa que eu esteja ou não esteja aqui.
Eu sou a testemunha viva de que a terra gira e os dias passam sem que o nevoeiro se adense de tristeza.
A tristeza é muito minha.
Não a partilho.
E finjo.
Sei fingir muito bem.
Aprendi ... para não perturbar os outros.
Mas hoje, a verdade cintila.
E eu acordei com os olhos já molhados.
E sem força para quebrar silêncios.
O meu filho morreu.
Esta é a verdade silenciosa que hoje me habita.

Ouço o "Abóbo" do Miguel que acordou e saio de mim para uma realidade mais doce.




3 comentários:

Carecaloira disse...

Beijo bem grande

Branca disse...

Há dias assim, não é Isabel? E tem todo o direito a eles.

Gostei muito de ouvir Léo Ferré, já não o ouvia há muito, obrigada pelo momento.

Deixo-lhe um grande abraço e beijinhos.
Branca

Branca disse...

Olá Isabel,

Li-a no fim de semana, achava que tinha deixado um beijinho, mas acho que perdi o que por cá possa ter escrito.
Gostei muito de a ler, deste grito de saudade, que é humano e real e que é tão seu!
Obrigada pelo Léo Ferré, de que sempre gostei, um valor da nossa geração e o francês é sempre uma língua tão doce, mesmo quando nos fala de solidão.

Beijinhos
Branca