20 outubro 2009

Apenas uma


20 de Outubro
E agora?
Regresso sempre ao ponto de partida.
Olho para um lado, para o outro. Regresso atrás, procuro à frente.
Não reconheço o que vejo.
A minha realidade é tão estranha, tão fora de si que não me revejo.
E o cansaço de ligar realidades...
Acordo mãe e avó, percorro o dia de mão dada com o Miguel, a noite chama a professora e, ao deitar, é novamente uma mãe que adormece com a fotografia de um filho outro que lhe sorri, da mesinha de cabeceira, fingindo dormir também.
Como se faz para que todas estas sejam apenas uma?

20 de Outubro, repouso e um canteiro de rosas...
Recomeço, a partir do zero?
Como se faz para sentir que cada dia, dia a dia, se tece uma malha que nos envolva, nos sossegue e nos faça sentir que é, algures, por aí o caminho a percorrer?
Não sei a receita...
Tendo a ficar parada.
É assim que me sinto segura.
Não avançando.
Ficando aqui, fechada em mim.
Espreitando, de vez em quando, pelo vidro da janela.
Ou abrindo a porta a quem me visita e me convida a sair.

9 comentários:

Silenciosamente ouvindo... disse...

Tento compreendê-la e é impossível...
Mas você está reagindo...este
seu blogue é a prova disso...
está contactando...está a
tentar atravessar a ponte(e tantas
pontes temos que atrevessar nas nossas vidas...)Que pudemos nós
fazer senão dizer-lhe para sorrir...por mais que lhe possa
doer...SORRIA para ele...para si...
E eu que não me conhece de lado algum, só lhe posso dizer: coragem
já você demonstrou ter, então é
escrever sempre o que lhe vai na
alma, e viver!!!Um beijinho

Silenciosamente ouvindo... disse...

Apenas um beijinho

Jaime Latino Ferreira disse...

COMO SE FAZ


Isabel Venâncio,

É como diz, não há receitas e se se sente segura não avançando, pois que fique parada que o não está como, aliás, lucidamente o regista também, sendo mãe e avó, professora à noite e por aí fora nessas realidades aparentemente desligadas em que, afinal, se move.

Como se faz e mais, sobretudo em circunstâncias como as Suas!?

Faz-se andando
prosseguindo
assim sem norte
e sem tino
aconchegando-se no conforto da dor
que sempre o tem
e indo e indo
para lá do Seu destino

Até que um dia
verá que religada
a sorte Lhe sorria
nessa estrada

Um beijinho


Jaime Latino Ferreira
Estoril, 20 de Outubro de 2009

Graça Pereira disse...

Uma só coisa é certa:
Um dia, o dia nasceu noutra parte para o David.
A Isabel, tal como eu estive,permanece debruçada sobre uma sexta-feira santa mas, aos poucoa, acontecerá um Domingo de Ressurreição na sua vida.
Eles...eles estão sempre connosco e fazem-nos tanta companhia...
Um beijo carinhoso.
Graça

Cândida Ribeiro disse...

Olá Isabel,

Voltei aqui, sinto que é uma lutadora, que se interroga constantemente porque tudo ainda dói dentro de si, como se a ferida continuasse aberta.
Mas para que uma ferida sare é preciso muita paciência, muita ternura, muito amor e é preciso encontrar respostas para todas as dúvidas.
Do David só não está o corpo e é desse corpo que sente falta, só não vê o seu sorriso e o seu olhar meigo mas todo ele existe em forma de luz, de amor, de música e de recordações tão lindas que tem da sua presença.
É dessa luz que agora é feito o David e é dela que tem que se alimentar para continuar o seu caminho.
Mesmo quando está parada, está a caminhar e mesmo que olhe e não veja nada…tudo está lá.
É difícil compreender e aceitar …mas não desista, não pode desisitir agora. O sol não brilha, não se vê...mas ele está lá, olhando para nós.
Eu sei que se sente dispersa, sem saber quem é... mas já reparou que faz tudo, tudo como se o soubesse? Apesar de dividida é só UMA...tudo o que é e sente faz parte de si.
Sinto que é uma mãe e uma avó com muita força e com muito amor ainda para dar....há muitas mãos estendidas que a vão ajudar nesta dura caminhada.
O meu abraço... e levo um pouco da sua dor para a transformar em alegria...em sorrisos.
Até breve

António disse...

O seu David, Isabel, transparece aquilo que o ser humano melhor pode ter:ar de boa pessoa...

J. Ferreira disse...

Isabel,
Acabo de postar no blogue do Jaime um extenso comentário, no qual, sem explicitamente o dizer, parte substancial lhe é dirigido. Se o ler, julgo que vai entender.

Não obstante estar algo exangue, dir-lhe-ei que não tenho resposta às suas dúvidas existênciais.

Dor é uma coisa que não partilhável, pelo menos em termos semânticos. É dor, e quando sentida, só o próprio tem autoridade para a expressar, quando consegue.

Li o seu longo comentário no blogue do Jaime e gostei. Ao seu conteúdo, voltarei mais tarde, se tiver disposição para ler o que escrever.
Afectuosamente,(e solidáriamente)

Branca disse...

Passo para deixar um abraço, assim apertadinho, enquanto procura o caminho a percorrer e deixo beijinhos também.
Branca

manuela baptista disse...

Quero-lhe dizer,

Isabel

que apenas podemos dar aquilo que possuímos

que entender a dor dos outros é mais difícil do que aceitar a nossa própria dor

uns falam de Deus, outros de Amor,de solidariedade, de amizade e há uma enorme humildade em tudo isso

fico contente, que tenha por aqui mais gente a bater-lhe à porta,
a fazê-la tirar o nariz do vidro que, presumo já está embaciado

Um beijo

Manuela Baptista