Análise Teatral
Prof. Isabel Alves
Costa
"You
Walk?"
Depois
de mastigar e ingerir rapidamente uma Alheira de Mirandela, saí apressadamente
do restaurante onde jantava, com os meus progenitores e o meu irmão, para me dirigir ao Rivoli, com o objectivo de
arranjar uma sobra qualquer para ver o meu primeiro espectáculo do Porto 2001,
"You Walk?" de Bill T. Jones.
Depois de voltas e mais voltas pelos
buracos e escavações do Porto, lá consegui um lugar para estacionar a viatura
em que me guiava. O Rivoli estava cheio de gente e eu lá me pus, com ar de
quem não quer a coisa, à espera. Encontrei outros colegas e amigos, todos (usando a expressão
correcta) "na mama".
Com paciência e calma lá chegou a minha vez na
bilheteira e arranjei um bilhete para mim. Quando a senhora me perguntou
"É menor de 25 anos?", apercebi-me de que a idade não perdoa e pensei
"Tenho 3 anos para ser famoso!".
Dessa forma, não tenho de andar nesta
desgraceira das sobras para os alunos da ESMAE.
Entrei, obriguei quase uma fila
inteira a levantar-se e sentei-me. Antes de continuar, devo anunciar que vim a
este espectáculo por influência de um amigo que é Designer de Luz.
O espectáculo é constituído por
várias peças distintas e estas intercaladas por leituras feitas pela cantora
Mísia. Há intervalo para ir à casa de banho. Há também uma senhora a ruminar
uma chiclete mesmo ao meu lado ...
A dança em si não me cativou muito,
mas confesso que, por vezes, estive de boca aberta, vendo os bailarinos fazerem
coisas que nem a minha gata faz quando se espreguiça. Os corpos eram o mote
daquilo tudo, quer fosse com ou sem roupa. E, por falar em roupa e não
figurinos, esta parece nem existir. Fazia parte do próprio corpo dos
bailarinos.
Foi-se formando um ambiente sadio e
fresco e o bom relacionamento entre bailarinos transbordou do palco. Mas os
melhores momentos ainda estavam para chegar.
Quando, na segunda parte, assisti a um
concerto coreografado, mergulhei profundo na harmonia dos sons do novo fado
tocado pelos músicos. Reflecti e interroguei-me sobre a força
desta nossa música além fronteiras. Quando acabou, quase que chorei por mais.
Voltei a ouvir o som da ruminante ao meu lado ...
O fim é em grande! É o auge da
construção do ambiente cândido de toda a peça. A luz branca é comparável ao
paraíso e os bailarinos, agora nus, comparáveis a anjos.
Muitas palmas e mais
uma música com direito a improvisos dos bailarinos, mais palmas ainda e, por
fim, o fim.
David Sobral
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