Às vezes
Sophia de Mello
Breyner
Às vezes julgo ver nos meus olhos
Às vezes julgo ver nos meus olhos
(Com olhos outros, alguém que já não eu)
A promessa de outros seres
(Outros porquê? Se me bastava assim)
Que eu podia ter sido,
(Como e quem, sem ti?)
Se a vida tivesse sido outra.
(Vida apenas ... )
Mas dessa fabulosa descoberta
(Dolorosa ... dia a dia)
Só me vem o terror e a mágoa
(Palavras gravadas a medo)
De me sentir sem forma, vaga e incerta
(Nua entre farpas desfeitas em sangue)
Como a água.
(Ou a espuma.)
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