E não sei como manter a fé no género humano!
Hoje, IPO-Porto, da cama do lado
incapaz (por falta de força) de carregar na campainha, a dona M. C.
toda ela dor
toda ela tristeza nos olhos fundos
toda ela palidez
toda ela saudades do filho
(que sempre vem)
toda ela tempo de espera pelo alívio da dor, na próxima injeção ... gemeu..
"Está com dores, dona M.C.?"
Sorriu-me do fundo dos olhos negros.
Que sim.
Toquei.
Uma bata verde, à entrada da enfermaria.
"Que se passa?"
"Por favor, diga à enfermeira que a dona M. C. está com dores. Pediram de avisasse mal a dor desse sinal!"
"Vou avisar."
E desligou-se o piscar vermelho do pedir ajuda.
Lá fora, no corredor, o som das vozes.
"Enfermeira, a senhora da cama 20 está com dores!"
Um voz sem rosto.
"Outra vez??"
Mesmo assim, a dona M. C. sorriu-me!
E apetece-me recordar Inês de Castro, quando se apresenta perante o rei, avô dos seus filhos ...
"Põe-me onde se use toda a feridade,
Entre liões e tigres, e verei
Se neles achar posso a piedade
Que entre peitos humanos não achei."
"Põe-me onde se use toda a feridade,
Entre liões e tigres, e verei
Se neles achar posso a piedade
Que entre peitos humanos não achei."
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