Como dizer, senão dizendo, que hoje podia despedir-me dos dias.
Podia despedir-me do sol.
Do sabor a sal da água do mar.
Reter na memória sorrisos amigos para levar na viagem.
E os olhares que me acariciam.
Como dizer, senão dizendo, que hoje podia desfazer-me em nuvem.
Ser levada pelo vento, por entre os cumes verdes dos montes.
E poisar, docemente, na cauda de um cometa.
Que me levasse.
Ou escorregar, encosta abaixo, numa cascata.
Que me lavasse.
As mágoas.
E não me devolvesse.
Como dizer, senão dizendo, que hoje pressenti o roçar das asas de "vampiros" antigos.
Que, sisudos e mudos senhores sem lei, ensombraram os teus últimos dias de sol.
As tuas ilusões sobre a bondade dos outros.
E o teu sorriso, David!
O teu sorriso!
De esperança.
E os meus últimos dias de ti.
Como dizer, senão dizendo, que, hoje, a metade de mim que resiste preferia tombar ...
Sair de cena, num aceno breve.
Apesar ...
A senti-los de novo, poderosos e sedentos, poisar nas calçadas.
E a sombra deles a crescer.
Sobre a minha sombra.
Hoje, poderia perder-me num atalho de outras sombras vagabundas.
Transparentes.
Porque tenho medo.
Porque sofri.
Por ti.
Porque sofro.
Por ti
Porque não há perdão.
Por ti.
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